quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O papel dos judeus na revolução bolchevique e no início do regime soviético da Rússia (I)

“Na noite de 16-17 de julho de 1918, um esquadrão da polícia secreta bolchevique assassinou o último imperador da Rússia, Czar Nicolau II, junto com sua esposa, Czarina Tsaritsa Alexandra, seu filho de 14 anos, Tsarevich Alexis, e suas quatro filhas. Eles foram executados com uma saraivada de tiros em um quarto de meia-cave da casa em Ekaterinburg, cidade na região dos Montes Urais, onde eram mantidos prisioneiros. A execução das filhas foi consumada com baionetas. De modo a evitar um culto ao Czar morto, os corpos foram levados em uma carroça até a zona rural e apressadamente enterrados em uma cova secreta.
As autoridades bolcheviques inicialmente informaram que o imperador Romanov tinha sido morto após a descoberta de um complô para libertá-lo. Durante algum tempo as mortes da imperatriz e das crianças foram mantidas em segredo. Os historiadores soviéticos afirmaram por muitos anos que os bolcheviques locais tinham agido por conta própria na realização dos assassinatos, e que Lênin, fundador do estado soviético, não tinha nada a ver com o crime.
Em 1990, Edvard Radzinsky, um historiador e teatrólogo de Moscou, anunciou o resultado de sua investigação detalhada dos assassinatos. Ele trouxe à luz as memórias do guarda-costas de Lênin, Alexei Akimov, que contou como ele tinha pessoalmente entregado na estação de telégrafos a ordem de Lênin para a execução. O telegrama também estava assinado pelo chefe de governo soviético Yakov Sverdlov. Akimov guardou a fita do telégrafo original como registro da ordem secreta.
A pesquisa de Radzinsky confirmou o que provas anteriores já tinham indicado. Leon Trotsky – um dos colegas mais próximos de Lênin – há anos já tinha revelado que Lênin e Sverdlov haviam tomado juntos a decisão de condenar à morte o Czar e sua família. Lembrando-se de uma conversa em 1918, Trotsky escreveu:
Minha visita seguinte a Moscou aconteceu depois da queda [temporária] de Ekaterinburg [para as forças anticomunistas]. Falando com Sverdlov, perguntei de passagem: “Oh sim, e onde está o Czar?”
“Morto,” respondeu. “Ele foi fuzilado.”
“E onde está a família?”
“A família foi junto com ele.”
“Todos eles?”, perguntei, aparentemente um pouco surpreso.
“Todos eles,” respondeu Sverdlov. “E daí?” Ele estava esperando para ver minha reação. Não respondi nada.
“E quem tomou a decisão?”, perguntei.
“Nós decidimos aqui. Ilych [Lênin] achou que não deveríamos deixar para os Brancos uma bandeira viva junto à qual eles pudessem se reunir, principalmente sob as atuais e difíceis circunstâncias.”
Não fiz mais perguntas e considerei o caso encerrado.

Pesquisas e investigações recentes levadas a cabo por Radzinsky e outros também corroboram o relato fornecido anos antes por Robert Wilton, correspondente do London Times na Rússia por 17 anos. Seu relato, Os Últimos Dias dos Romanov – originalmente publicado em 1920, e republicado em 1993 pelo Institute for Historical Review – baseia-se em grande parte nas descobertas de uma investigação detalhada realizada em 1919 por Nicolai Sokolov sob a autoridade do líder “Branco” (anticomunista) Alexander Kolchak. O livro de Wilton ainda é um dos mais acurados e completos relatos do assassinato da família imperial da Rússia.
Um entendimento bem fundamentado da história sempre foi o melhor guia para a compreensão do presente e a antecipação do futuro. É por essa razão que as pessoas estão mais interessadas nas questões históricas em épocas de crise, quando o futuro parece mais incerto. Com o colapso do regime comunista na União Soviética, entre 1989-1991, quando os russos lutavam para construir uma nova ordem sobre as ruínas da antiga, as questões históricas tornaram-se assunto do dia. Por exemplo, muitos se perguntam como é que os bolcheviques, um movimento pequeno guiado pelos ensinamentos do filósofo social teuto-judeu Karl Marx, puderam tomar o poder na Rússia e impor um regime cruel e despótico a seu povo?
Nos últimos anos, os judeus de todo o mundo têm manifestado sua preocupação sobre o espectro de anti-semitismo nas terras da ex-União Soviética. Nesta época nova e incerta, há notícias de que sentimentos antes reprimidos de raiva e ódio aos judeus estão reaparecendo. Segundo uma pesquisa de opinião pública conduzida em 1991, por exemplo, a maioria dos russos queria que todos os judeus deixassem o país. Mas precisamente por que razão o sentimento antijudeu é tão disseminado entre os povos da ex-União Soviética? Por que tantos russos, ucranianos, lituanos e outros põem a culpa nos judeus por tanta desgraça?
Um assunto tabu
Embora oficialmente os judeus jamais tenham constituído mais do que cinco por cento da população total do país, eles tiveram um papel altamente desproporcional e provavelmente decisivo na infância do regime bolchevique, dominando efetivamente o governo soviético em seus anos iniciais. Os historiadores soviéticos, junto com a maioria de seus colegas no Ocidente, preferiram por décadas ignorar esse assunto. Esses fatos, contudo, não podem ser negados.
Com a notável exceção de Lênin (Vladimir Ulyanov), a maioria dos líderes comunistas que tomaram o poder na Rússsia em 1917-20 eram judeus. Leon Trotsky (Lev Bronstein) comandava o Exército Vermelho e, por algum tempo, foi chefe das relações exteriores soviéticas. Yakov Sverdlov (Solomon) foi secretário-executivo do partido bolchevique e – como presidente do Comitê Executivo Central – líder do governo soviético. Grigori Zinoviev (Radomyslsky) liderava a Internacional Comunista (Comintern), a agência central para a disseminação da revolução em países estrangeiros. Outros judeus eminentes incluíam o comissário de imprensa Karl Radek (Sobelsohn), o comissário de relações exteriores Maxim Litvinov (Wallach), Lev Kamenev (Rosenfeld) e Moisei Uritsky.
O próprio Lênin era de ascendência principalmente russa e calmuque, mas também um quarto judeu. Seu avô materno, Israel (Alexander) Blank, foi um judeu ucraniano que depois se batizou na Igreja Ortodoxa Russa.
Um consumado internacionalista, Lênin desprezava as lealdades étnicas ou culturais. Tinha pouco respeito por seus próprios conterrâneos. “Um russo inteligente,” disse certa vez, “é quase sempre um judeu ou alguém com sangue judeu nas veias.”
Encontros decisivos
Na tomada de poder na Rússia, o papel dos judeus foi talvez decisivo.
Duas semanas antes da “Revolução de Outubro” bolchevique de 1917, Lênin convocou um encontro secreto em São Petersburgo (Petrogrado) no qual os principais líderes do Comitê Central do partido bolchevique tomaram a fatídica decisão de tomar o poder de forma violenta. Das doze pessoas que participaram desse decisivo encontro, havia quatro russos (inclusive Lênin), um georgiano (Stalin), um polonês (Dzerzhinsky) e seis judeus.
Para a direção do golpe, foi escolhido um “Gabinete Político” de sete homens, que consistia de dois russos (Lênin e Bubnov), um georgiano (Stalin) e quatro judeus (Trotsky, Sokolnikov, Zinoviev e Kamenev). Enquanto isso, o Soviete de Petersburgo (Petrogrado) – cujo presidente era Trotsky – estabeleceu um “Comitê Revolucionário Militar” de 18 membros para realizar a efetiva tomada de poder, que incluía oito (ou nove) russos, um ucraniano, um polonês, um caucasiano e seis judeus. Finalmente, para supervisionar a organização da revolução, o Comitê Central Bolchevique estabeleceu um “Centro Militar Revolucionário” como comando das operações do partido, que consistia de um russo (Bubnov), um georgiano (Stalin), um polonês (Dzerzhinsky) e dois judeus (Sverdlov e Uritsky).
Vozes de alarme contemporâneas
Observadores bem informados, tanto dentro como fora da Rússia, perceberam à época o papel crucial dos judeus no Bolchevismo. Winston Churchill, por exemplo, em artigo publicado em 8 de fevereiro de 1920 no Illustrated Sunday Herald de Londres, alertou para o fato de que o Bolchevismo era uma “conspiração mundial para a derrubada da civilização e reconstituição da sociedade com base no desenvolvimento interrompido, na malevolência invejosa e na igualdade impossível.” O eminente líder político e historiador britânico disse ainda:
Não é preciso exagerar a parte que tiveram esses judeus internacionais e em sua maioria ateus na criação do Bolchevismo e no suscitamento da Revolução Russa. É parte muito grande com certeza; e provavelmente supera as demais. Com a notável exceção de Lênin, a maioria das principais figuras é de judeus. Além disso, a maior inspiração e força motora vem dos líderes judeus. Assim é que Tchitcherin, um russo puro, foi eclipsado por seu subordinado nominal, Litvinoff, e a influência de russos como Bukharin ou Lunacharski não pode se comparar ao poder de Trotsky, ou de Zinoviev, o Ditador da Citadela Vermelha (Petrogrado), ou de Krassin ou Radek – todos judeus. Nas instituições soviéticas a predominância dos judeus é ainda mais impressionante. E a parte proeminente, se não a principal, no sistema de terrorismo aplicado pelas Comissões Extraordinárias para o Combate à Contra-Revolução [a Cheka] foi tomada pelos judeus, e em alguns casos notáveis por judias.
Desnecessário dizer que as paixões mais intensas de vingança foram excitadas no coração do povo russo.

David R. Francis, embaixador dos Estados Unidos na Rússia, avisou em despacho de janeiro de 1918 a Washington: “Os líderes bolcheviques aqui, a maioria dos quais são judeus e 90 por cento dos quais são exilados que retornaram, pouco se importam pela Rússia ou qualquer outro país mas são internacionalistas e estão tentando começar uma revolução social universal.”
O embaixador da Holanda na Rússia, Oudendyke, fez quase a mesma observação alguns meses depois: “Se o Bolchevismo não for imediatamente cortado pela raiz, ele vai se espalhar de uma forma ou de outra por toda a Europa e pelo mundo inteiro, pois foi organizado e executado por judeus que não têm nacionalidade e cujo único objetivo é destruir para seus próprios fins a ordem existente das coisas.”
“A Revolução Bolchevique,” declarou um dos principais jornais da comunidade judia americana em 1920, “foi em grande parte o produto do pensamento judeu, do descontentamento judeu, do esforço judeu de reconstruir.”
Como mostra de seu caráter radicalmente antinacionalista, o incipiente governo soviético emitiu um decreto poucos meses após tomar o poder que tornou o anti-semitismo um crime na Rússia. O novo regime comunista tornou-se assim o primeiro no mundo a punir severamente todas as manifestações de sentimento anti-semita. Os oficiais soviéticos aparentemente consideravam indispensáveis essas medidas. Baseado em minuciosa observação durante longa estada na Rússia, o erudito judeu-americano Frank Golder disse em 1925 que “devido ao fato de que muitos dos líderes soviéticos são judeus, o anti-semitismo está crescendo [na Rússia], principalmente no exército [e] entre a antiga e a nova intelligentsia cujas posições estão sendo ocupadas pelos filhos de Israel.”
As perspectivas dos historiadores
Resumindo a situação à época, o historiador israelense Louis Rapoport escreveu:
Imediatamente após a Revolução [Bolchevique], muitos judeus ficaram eufóricos com sua alta representação no novo governo. O primeiro Politburo de Lênin era dominado por homens de origem judia.
Sob Lênin, os judeus se envolveram em todos os aspectos da Revolução, inclusive seu trabalho mais sujo. Apesar das promessas dos comunistas de erradicar o anti-semitismo, ele se espalhou rapidamente após a Revolução – em parte por causa da proeminência de tantos judeus na administração soviética, assim como nos movimentos de sovietização traumáticos e inumanos que se seguiram. O historiador Salo Baron ressaltou que um número imensamente desproporcional de judeus entrou na nova polícia secreta bolchevique, a Cheka, e muitos dos que a Cheka considerava culpados eram fuzilados por investigadores judeus.
A liderança coletiva que emergiu nos dias finais de Lênin era encabeçada pelo judeu Zinoviev, um Adônis loquaz, mesquinho e de cabelos ondulados cuja vaidade não tinha fim.

“Aquele que tinha o azar de cair nas mãos da Cheka,” escreveu o historiador judeu Leonard Shapiro, “tinha grande chance de encontrar-se diante de e ser provavelmente fuzilado por um investigador judeu. Na Ucrânia, “os judeus eram mais de 80 por cento dos agentes de baixo escalão da Cheka,” relata W. Bruce Lincoln, professor americano de história russa. (Começando como Cheka, ou Vecheka, a polícia secreta soviética mais tarde ficou conhecida como GPU, OGPU, NKVD, MVD e KGB.)
À luz disso tudo, não surpreende que Yakov M. Yurovksy, o líder do esquadrão bolchevique que realizou o assassinato do Czar e sua família, fosse judeu, como o era Sverdlov, o chefe soviético que assinou conjuntamente a ordem de Lênin para a execução.
Igor Shafarevich, um matemático russo de fama mundial, tem criticado severamente o papel dos judeus na derrubada da monarquia Romanov e no estabelecimento do governo comunista em seu país. Shafarevich foi um dos principais dissidentes durante as décadas finais do governo soviético. Um destacado ativista pelos direitos humanos, ele foi um membro fundador do Comitê em Defesa dos Direitos Humanos na URSS.
Em Russofobia, um livro escrito dez anos antes do colapso do governo comunista, ele notou que os judeus eram “surpreendentemente” numerosos entre o pessoal da polícia secreta bolchevique. A característica judeidade dos carrascos bolcheviques, continua Shafarevich, fica bem evidente na execução de Nicolau II:
Esta ação ritual simbolizou o fim de séculos de história russa, podendo ser comparada apenas à execução de Carlos I na Inglaterra ou Luís XVI na França. Poder-se-ia pensar que os representantes de uma insignificante minoria étnica prefeririam ficar o mais longe possível dessa dolorosa ação, que iria reverberar em toda a história. No entanto, com que nomes nos deparamos? A execução foi pessoalmente supervisionada por Yakov Yurovsky, que fuzilou o Czar; o presidente do Soviete local era Beloborodov (Vaisbart); a pessoa responsável pela administração geral em Ekaterinburg era Shaya Goloshchekin. Para completar o quadro, na parede do quarto onde a execução aconteceu achava-se um dístico de um poema de Heine (escrito em alemão) sobre o Rei Baltasar, que ofendeu Jeová e foi morto pela ofensa.
(Mark Weber, The Jewish Role in the Bolshevik Revolution and Russia's Early Soviet Regime - Assessing the Grim Legacy of Soviet Communism)