quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Lucian Blaga: Carta

Não te escreveria hoje
nenhuma destas linhas,
mas os galos cantaram três vezes na noite –
e foi preciso gritar:
– Senhor, Senhor, a quem reneguei?

Estou mais velho do que tu, Mãe,
mas assim mesmo como me conheces:
um pouco curvado de ombros,
inclinado sobre as perguntas do mundo.

Não sei ainda hoje por que me deste à luz.
Apenas para que eu caminhe entre as coisas
e lhes faça justiça, distinguindo
o que é mais verdadeiro e o que é mais belo?
A minha mão hesita: é muito pouco.
Por que me deste à luz, Mãe,
por quê?

Meu corpo cai aos teus pés,
pesado como um pássaro morto.


Tradução de Luciano Maia