segunda-feira, 3 de setembro de 2012

As heresias dos neocatecumenais (I)

I. Quem São
Os neocatecumenais pretendem trazer a sociedade contemporânea de volta ao cristianismo, seguindo e mostrando um Caminho de Fé direcionado ao redescobrimento do significado e valor do batismo.
Embora não formem uma instituição religiosa nem tenham regras, os neocatecumenais constituem “comunidades” particularmente ativas que são parte das paróquias de muitas dioceses do mundo católico.
Inegável é a sinceridade e fervor de muitos deles, dos quais alguns se converteram do pecado para uma vida cristã exemplar.
Sábio é o ideal de um caminho que, à luz de um maior entendimento do rito batismal, estimula à vida o dogma central do cristianismo na participação na morte e ressurreição de Cristo.
O movimento se deve – no que se refere à própria organização – a Kiko Argüello, que recapturou um motivo de fé e um método de vida da tradição milenar da espiritualidade paulina, embora bem conhecido, em outras formas e sob outras nomenclaturas, de todos os santos e instituições religiosas do passado.
Isso explica o apoio que o Movimento Neocatecumenal recebe junto à hierarquia, em contraste com a desconfiança, suspeições e acusações abertas de heresia feitas pelos que conhecem os pressupostos doutrinais do Caminho.
Essa oposição não diz respeito aos fiéis que com boa-fé apoiaram a iniciativa e a ela atribuíram seu arrependimento. Não faltam muitos, contudo, que, ao longo do caminho, ficaram gravemente chocados com a angustiosa experiência de alguns modos de pensar e de agir observados no Movimento, os quais são incompatíveis com as convicções devidas à educação cristã herdada pela família e recebida na igreja paroquial.
Experiências dessa espécie – que nos foram confiadas – levaram-nos a realizar um estudo aprofundado das “catequeses” atribuídas a Kiko, cuidadosamente gravadas, transcritas e adotadas – sob a mais zelosa reserva – como um texto de formação dos catequistas, que são os únicos professores e pessoas a cargo do Caminho.
Os resultados de seu exame crítico confirmaram a verdade das mencionadas acusações, que recaem principalmente sobre Kiko, os catequistas e todos os que compartilharam e propagaram os erros contidos no copioso material datilografado das catequeses.
A esmagadora maioria dos neocatecumenais não parece ter noção desses erros e tiram do Caminho apenas o bem depurado da escória das explícitas e graves aberrações dogmáticas.
Isso, contudo, não afasta a obrigação de informar o público em geral a fim de prevenir uma maior disseminação da heresia e de uma mentalidade que imperceptivelmente induz pessoas simples e ignorantes a aceitá-la.
II. Erros Doutrinais
Fomos capazes de identificá-los nos retromencionados textos datilografados e destinados aos catequistas e mantidos em segredo não apenas do público, mas também dos fiéis ligados ao Caminho.
Dizem respeito a idéias que não podem ser compartilhadas com muitos neocatecumenais e parecem acima de tudo ser ignorados principalmente por aqueles que, sem formação teológica, não estão em condição de julgar sua ortodoxia com a competência necessária.
A acusação de heresia visa as posições doutrinárias, não as pessoas, a quem ainda consideramos dignas de respeito e que podem ser inspiradas pelas melhores intenções.
Pecado: o homem não pode deixar de cometê-lo, da mesma maneira que ele também não pode fazer o bem nem adquirir méritos para si mesmo.
- a conversão é possível apenas como reconhecimento, por todos, de sua própria pobreza moral, não como um desejo determinado de corrigir as próprias faltas que a santidade tende a realizar;
- o pecado não pode ofender a Deus, e o homem não incorre no dever de expiá-lo pela satisfação dos requerimentos de Sua justiça.
Redenção: Jesus não a realizou ao libertar o homem de suas faltas e reconciliá-lo com Deus;
- a paixão e morte de Cristo não foi um verdadeiro sacrifício oferecido ao Pai a fim de remediar o pecado e remir o homem;
- Jesus salvou o mundo em virtude de sua Ressurreição: para gozar os frutos de Sua obra basta confessar-se pecador e acreditar no poder do Cristo ressuscitado.
A Igreja não foi fundada por Cristo como seu único redil: é também possível salvar-se seguindo outras religiões;
- a Igreja não é uma sociedade jurídica e hierárquica, mas espiritual e carismática;
- na Igreja não se encontra um sacerdócio derivado do sacramento da Ordem – pois é suficiente ter o Batismo que, incorporando todos os fiéis em Cristo, faz com que sejam participantes de Sua dignidade sacerdotal.
A missa não é um “sacrifício”: a Igreja, no altar, não oferece a Deus nenhuma vítima;
- em lugar do altar, não há mais que uma mesa, que na Eucaristia permite ser celebrada uma festa entre os irmãos unidos pela mesma fé na Ressurreição;
- o pão e o vinho consagrados são apenas o símbolo da presença do Cristo ressuscitado que une os convidados comunicando-lhes seu próprio espírito, deste modo fazendo-os participantes de seu triunfo sobre a morte;
- a missa, assim concebida, não é celebrada pelo sacerdote, mas pela assembléia, da qual “brota a Eucaristia”.
A devoção eucarística não tem qualquer significado, ela nega a verdadeira, real e substancial presença de Cristo sob as espécies sacramentais. Atos de fé tais como genuflexões diante do tabernáculo, comunhões freqüentes, horas de adoração, bênçãos, procissões, congressos etc não são, portanto, justificados.
A confissão se reduz ao sacramento do Batismo: sua distinção não remonta à Igreja primitiva:
- a Igreja “gesta e leva à conversão”. “O importante não é a absolvição” do sacerdote, porque o valor da confissão é essencialmente sua natureza comunitária e eclesiástica;
- nas “passagens” e nos “escrutínios” o reconhecimento das próprias transgressões, inclusive as sérias, é público, como ainda pode ser o caso durante o “redditio”.
A vida cristã, como esforço voluntário de autodisciplina e, portanto, um exercício e progresso em virtude, é uma ilusão;
- todos permanecem intrinsicamente pecadores, incapazes de obter verdadeira justiça como uma perfeição do amor de Deus e do próximo;
- por outro lado, Jesus não foi apresentado a ninguém como um “modelo” a ser imitado;
- Ele ordenou que deveríamos realmente odiar nossos pais, irmãos, parentes etc, não apenas, se necessário, estar preparados para preferi-Lo a eles;
- para seguir a Cristo, precisamos vender nossos próprios bens; mas, uma vez cumprida essa renúncia, é lícito adquirir outros e desfrutar de todos os prazeres da vida. A “pobreza”, como a entendia São Francisco, é inspirada na “religião natural” e foi também praticada pelos pagãos: não é uma virtude cristã;
- Jesus, tendo sofrido por nós, tornou supérfluos nossos sofrimentos, portanto as austeridades dos ascetas, o lento martírio dos santos e a própria vida religiosa, envolvendo a prática efetiva dos conselhos evangélicos, não são justificáveis;
- a salvação eterna se oferece livremente a todos pela misericórdia de Deus, que perdoa tudo. O Inferno não deveria existir, nem deveríamos falar de Purgatório, de preces e de indulgências para os mortos.
A história da verdadeira Igreja fundada por Cristo chega ao fim com a Pax Constantinia e não retoma seu curso até o século XX com o Concílio Vaticano Segundo, tendo permanecido congelada por cerca de 1.600 anos...;
- nesse longo intervalo, o exercício do triplo poder da Igreja hierárquica (ensino, santificação, orientação) teria sido impróprio e ilegítimo...; e em particular o Concílio de Trento seria responsável pela paralisia da Igreja, determinado a corrigir fórmulas de fé, ritos litúrgicos, disciplinas, regras...;
- a interpretação da Palavra de Deus não cabe somente à hierarquia, mas é possível a todos os crentes: “a Bíblia explica-se por si mesma”. Essa liberdade de exame na exegese exclui o Ensino eclesiástico, a tradição dos Antigos e a doutrina das teologias.”
(Pe. Enrico Zoffoli, The Neocatechumenal Way - A Fearful Danger to the Faith)