domingo, 3 de junho de 2012

Fé e fanatismo

“Aqueles que gostariam de sugerir que a fé foi um fanatismo estão condenados a uma eterna perplexidade. Na explicação deles, ela deve necessariamente aparecer como fanática por nada e fanática contra quase tudo. Ela é ascética e está em guerra contra os ascetas; é romana e se revolta contra Roma; é monoteísta e luta furiosamente contra o monoteísmo; é severa em sua condenação do que é severo; é um enigma que não se pode explicar nem mesmo como irracionalidade. E que espécie de irracionalidade é essa que parece razoável a milhões de imperadores cultos através de todas as revoluções de aproximadamente mil e seiscentos anos? Ninguém se diverte com um enigma, ou paradoxo, ou simples confusão mental durante um espaço de tempo tão longo. Não conheço nenhuma explicação a não ser a que afirma que esse fenômeno não é uma irracionalidade, é razão; que se há fanatismo é fanatismo pela razão e contra o que não é racional. Essa é a única explicação que consigo achar para uma coisa que desde o início é tão desapegada e tão confiante, condenando coisas tão parecidas com ela mesma, recusando ajuda de poderes que pareciam essenciais para sua existência, compartilhando em seu aspecto humano de todas as paixões de sua época, e no entanto sempre, no momento supremo, elevando-se de repente acima delas, nunca dizendo exatamente o que se esperava que ela dissesse e nunca precisando desdizer o que havia dito. Não consigo encontrar nenhuma explicação exceto a de que, como Palas saiu do cérebro de Júpiter, ela de fato saiu da mente de Deus, madura e poderosa e armada para o julgamento e para a guerra.”
(Gilbert Keith Chesterton, The Everlasting Man)

Tradução de Almiro Pisetta