sábado, 9 de junho de 2012

A estratégia da Nova Ordem Mundial

“O profeta Daniel, em sua visão sobre a consumação dos tempos, contempla uma besta com dez chifres, que representam uma multidão de reis; e depois narra como, dentre esses dez chifres, nasce outro “chifre pequeno” que, falando com grande arrogância, vence ou submete os demais reis e lidera com poder irrestrito uma grande confederação de nações que “destruirá os santos e pretenderá mudar os tempos e a lei”. Recordando talvez aquela profecia de Daniel, afirmava Donoso Cortés: “No mundo antigo a tirania foi feroz e esmagadora; e no entanto essa tirania estava limitada fisicamente, porque os estados eram pequenos e as relações universais impossíveis em todo lugar. Hoje, senhores, os caminhos estão preparados para um tirano gigantesco, colossal, universal, imenso... Já não há resistências nem físicas, nem morais (...), porque todos os ânimos estão divididos, e todos os patriotismos estão mortos”. Rumo à entronização desse “tirano gigantesco” vamos caminhando inexoravelmente; pouco a pouco descobrimos que sua índole não é política, mas econômica, tal como Pio IX vislumbrara profeticamente em sua encíclica Quadragesimo Anno: “Um domínio exercido da maneira mais tirânica por aqueles que, tendo em suas mãos o dinheiro e controlando-o, apoderam-se das finanças e assenhoreiam-se do crédito; e por essa razão dir-se-ia que administram o sangue do qual vive toda a economia e têm em suas mãos como que a alma da mesma, de tal modo que ninguém pode sequer respirar contra sua vontade.” Tal dominação, “horrendamente dura, cruel, atroz”, após alcançar a hegemonia econômica – prossegue Pio IX - “engajar-se-á em rude combate para se apropriar do poder público, para poder abusar de sua influência e autoridade nos conflitos econômicos”, trazendo consigo “a queda do prestígio do estado, que deveria ocupar o elevado posto de reitor e supremo árbitro das coisas e se faz, pelo contrário, escravo, entregue e vendido à paixão e às ambições humanas”.
Aquilo que viram Daniel, Donoso Cortés e Pio IX, dentre outros homens clarividentes, já se está formando diante de nossos narizes: uma Nova Ordem Mundial tirânica que se impõe sem resistências físicas ou morais; e que – oh, mistério da iniqüidade! - aparece aos olhos atônitos das massas idiotizadas como a única salvação possível diante das catástrofes que ela mesma originou, em seu apetite insaciável de poder. Sua estratégia salta aos olhos: disseminação do pânico, mediante mecanismos especulativos, entre os estados debilitados, que acabam entregando sua soberania para converterem-se em lacaios obedientes da Nova Ordem Mundial e aceitam submeter seus súditos às mais árduas privações, sob a ameaça de uma debandada dos investidores que sustêm a dívida hipertrofiada de tais estados. E assim, um após o outro, sucumbem os reis da terra diante da pujança desse novo tirano de poder irrestrito, enquanto as massas idiotizadas aceitam, assustadinhas, todo tipo de “mudanças estruturais”; ou, dito em bom português: aumento dos impostos e redução dos salários. Mas isso é apenas o princípio: as arrogâncias desse novo tirano só fizeram começar; acabarão sendo sangrentas.
Só nos resta o consolo de saber que seu domínio será breve, como sempre ocorre com os tiranos envaidecidos do próprio poder. Mas, enquanto reinar, ele devorará e triturará quem se colocar em seu caminho, com o beneplácito subserviente dos reis da terra.”
(Juan Manuel de Prada, Nuevo Orden Mundial)