quinta-feira, 15 de março de 2012

A morte da antiguidade

“O corpo foi descido da cruz, e um dos poucos ricos entre os cristãos obteve permissão para sepultá-lo numa tumba aberta na rocha em seu jardim; e os romanos montaram uma guarda militar para impedir um possível tumulto e a tentativa de recuperar o corpo. Houve mais uma vez um simbolismo natural nesses procedimentos naturais: convinha que a tumba fosse lacrada com todo o sigilo das antigas sepulturas orientais e guardada pela autoridade dos césares. Pois naquela segunda caverna toda a grande e gloriosa humanidade a que chamamos de antiguidade estava reunida e encoberta, e ali foi sepultada. Foi o fim de algo muito grande chamado de história humana que foi simplesmente humana. As mitologias e as filosofias foram ali sepultadas, os deuses e os heróis e os sábios. Na grande frase romana, eles haviam vivido. Mas como só podiam viver, eles só poderiam morrer; e estavam mortos.
No terceiro dia os amigos de Cristo vieram para o local ao romper da manhã e encontraram o túmulo vazio e a pedra removida. De várias formas eles perceberam a nova maravilha, mas até mesmo eles mal se deram conta de que o mundo havia morrido naquela noite. O que estavam contemplando era o primeiro dia de uma nova criação, com um novo céu e uma nova terra; e sob as aparências do jardineiro Deus novamente caminhava pelo jardim, no frio não da noite e sim da madrugada.”
(Gilbert Keith Chesterton, The Everlasting Man)

Tradução de Almiro Pisetta