quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O boi e o burro

“Os primeiros adoradores de Jesus foram animais e não homens. Entre os homens ele procurava os simples; entre os simples, a crianças; acolheram-no porém os animais domésticos mais simples e mais doces ainda que as crianças. O burro e o boi, humildes e submissos, já tinham visto as multidões se prosternarem diante deles.
O povo de Javé, o povo santo libertado por Javé da escravidão do Egito, quando Moisés o deixara no deserto para falar com Deus, obrigou a Aarão a fundir-lhe o bezerro de ouro. O burro na Grécia era consagrado a Ares, a Dionísio, a Apolo Hiperbóreo. A burra de Balaão, mais sábia que o sábio, por suas palavras salvara o profeta. Ocos, rei da Pérsia, fizera adorar um burro no templo de Phtah. Poucos anos antes do nascimento de Cristo, Otávio, indo embarcar na véspera de Actio, encontrou um burriqueiro com seu animal.
O burro chamava-se Nikon: o Vitorioso; e depois da vitória, no templo votivo, o imperador erigiu um burro de bronze para comemorá-la. Reis e povos haviam até então adorado o boi e o burro. Mas eram apenas reis e povos da terra e Jesus não nascera para lhes disputar o império. Com ele se acabam a adoração do Animal, a fraqueza de Aarão e a superstição de Augusto. Matá-lo-ão os brutos de Jerusalém, mas hoje os de Belém o aquecem com o seu hálito. Quando Jesus entrar para a última Páscoa na cidade da morte, virá montado sobre um burro; mas sendo ainda maior que Balaão, vindo para salvar não só os Judeus mas todos os homens, ele não retrocederá do caminho aos apupos de todos os asnos de Jerusalém.”
(Giovanni Papini, Storia di Cristo)

Tradução do Pe. Lindolfo Esteves