quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Pe. James Schall e as perseguições legais à Igreja

“Escolas de direito, advogados e políticos católicos mostraram-se inúteis ou até mesmo cúmplices no processo pelo qual os “direitos humanos” são usados para, um passo aparentemente lógico após outro, eliminar os católicos da vida pública. Muito já aconteceu. Os “católicos” que são o alvo principal são os que defendem e vivem os ensinamentos centrais de razão e de fé. Os que não o fazem pouco importam.
Analisando uma nova determinação do Ministério da Saúde dos EUA relativa à disponibilidade de abortos, anticoncepcionais e outros itens, o bispo auxiliar de Washington, Barry Knestout, escreveu:
Ao implementar a nova lei de reforma dos serviços de saúde, o MS emitiu uma determinação que exige dos planos nacionais de saúde privados a cobertura da contracepção e da esterilização como “serviços de prevenção” para mulheres. A determinação inclui abortivos que têm a capacidade de interromper uma gravidez de poucas semanas. O governo federal nunca tinha exigido de planos de saúde privados que incluíssem essa cobertura.
A Comissão de Direitos Humanos do Distrito de Columbia interferiu na política de dormitórios de mesmo sexo para universitários da Universidade Católica da América. Essa política foi considerada “discriminação sexual”, não permitida no Distrito. Essa e outras iniciativas governamentais são apenas o começo.
Está quase tudo pronto para uma perseguição legal da Igreja em grande escala, totalmente forjada sob a égide da proteção governamental aos “direitos humanos”. O significado de “direito” é definido pelo próprio governo em nome da “liberdade” e da “igualdade”. Isso talvez pareça nobre mas, como disse Platão, “Os pedidos dos soberanos trazem junto a coação”. Esse conselho vale também para os soberanos democráticos.
O World News Daily de 17 de setembro noticia que o PayPal está investigando fontes cristãs na internet que estariam envolvidas em “linguagem de ódio” devido às suas críticas de certas atividades gays. Abordar esse problema não é mais a afirmação do “direito de livre expressão”, mas um assunto de investigação estatal. Alguns ensinamentos centrais do Cristianismo serão proibidos por lei como ameaças aos “direitos humanos”.
Pode-se prever uma situação análoga à da China: uma igreja “oficial” separada que segue as leis do governo e uma igreja subterrânea que ainda mantém as verdades centrais de razão e de fé. Pode-se suspeitar que o grau de ódio à Igreja é mais disseminado e profundo do que gostaríamos de admitir. A situação, contudo, não é muito diferente daquela sobre a qual as Escrituras já nos alertaram.
As coisas mudam tão rapidamente que muitas vezes fica difícil avaliar seu alcance. Com a legalização dos “casamentos” do mesmo sexo, como são equivocadamente chamados, nos quais crianças são adotadas, teremos determinações para educá-las em escolas católicas como se não houvesse nenhum problema. As crianças, privadas de mãe ou de pai por lei, serão apresentadas como provenientes de famílias “normais”. Alguns escritores já sugeriram que, se os pais ensinarem a seus filhos que existem problemas na vida homossexual ou na adoção de crianças por homossexuais, serão investigados por “abuso de crianças”.
Os próprios casos de abuso infantil já mostraram como debilitar a estabilidade financeira da Igreja. Além da devida investigação dos malfeitores, os procedimentos legais permitiram que advogados fizessem fortuna com os recursos da Igreja. Ironicamente, pois a maioria desses abusos tinha origem na homossexualidade, não na pedofilia, à Igreja como um todo se exige, por um lado, pagar pelos abusos e, por outro, se lhe proíbe dizer que algo esteja errado com essa forma de vida.
A debilitação legal da família, enquanto união natural e favorecida de marido e mulher, já está bastante avançada. O aborto é um “direito” estabelecido. Poucos são os que realmente se importam com as crianças abatidas aos milhões. A oposição a esse sistema é considerada “inumana” e, de novo ironicamente, “contra as mulheres”. O que se define hoje como “humano” é somente um assunto da lei civil. O relativismo é a religião oficial do estado, mantida pela força.
Ao contrário de outras igrejas que acabaram por se curvar diante do estado nessas questões, a Igreja Católica está geralmente isolada. Nisso ela tem-se mostrado de forma “brilhante”. Essa degradação do ser normal do homem tem-se realizado em nome dos “direitos humanos” na própria linguagem que a Igreja insistiu em usar a fim de proteger a vida humana e a família.
O bispo Knestout sugeriu o envio de mensagens eletrônicas ao Ministério da Saúde como protesto contra a imposição pelo governo federal de tais padrões aos católicos. O problema é na verdade muito mais profundo. Talvez os bispos devessem ir preparando as pessoas para perseguições muito mais confiantes e agressivas, das quais a fase jurídica é apenas a primeira.
As garantias constitucionais da liberdade de expressão, do livre exercício de religião e do governo limitado não têm mais tanto peso contra as ideologias “democráticas” enraizadas, algo que tanto João Paulo II como Bento XVI previram. Não há dúvida que poucos de nós gostamos de pensar assim da América. Nós nos lembramos dos bispos poloneses de antes de 1939. Mas nossa “invasão” não vem de fora. Ela vem de dentro de nossas almas, como vêm todas as desordens de governo.”
(Pe. James Schall, S. J, Legal Persecution)