segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Catolicismo e ioga

“A ioga é uma rotina complexa de posições físicas, trazida das religiões orientais do budismo e do hinduísmo, direcionada a práticas meditativas também aprendidas dessas religiões. Em épocas passadas não teria havido qualquer dúvida quanto a católicos praticarem uma disciplina aprendida das falsas religiões orientais. Contudo, uma propaganda intensa tem apresentado a ioga como uma simples técnica de relaxamento, não necessariamente relacionada a qualquer espiritualidade, mas muito útil na obtenção da harmonia de corpo e alma.
Além disso, o desenvolvimento do ecumenismo na Igreja pós-conciliar nos últimos 50 anos deu origem a uma tentativa de incorporar certas práticas não-católicas à espiritualidade católica, entre as quais está a ioga. Surge, então, a pergunta de se isso é um enriquecimento lícito de espiritualidade ou de fato um sincretismo, uma união de diferentes religiões em uma só, claramente oposta à fé católica.
Para reconhecer que a ioga não é apenas um exercício físico de relaxamento corporal, mas realmente uma atividade espiritual, basta observar as tentativas de católicos para reconciliar ambos, como no portal da Arquidiocese de Chicago (www.holynamecathedral.org). Lá pode-se encontrar uma página inteira intitulada “Ioga Católica” que começa da seguinte maneira:
Tendo origem em várias tradições de fé, a ioga evoluiu através dos tempos como um modo de sintonizar o corpo a fim de obter uma melhor comunhão com Deus por meio de oração e meditação. Junte-se a nós e explore conosco os múltiplos benefícios espirituais e físicos da prática de ioga enquanto explicitamente integramos orações e temas espirituais de nossa fé católica. As sessões normalmente incluem uma oração inicial, depois movimentos inspirados e fortalecimento, e por fim uma oração contemplativa.
As afirmações de iogues “católicos” tais como a instrutora da Catedral do Santo Nome, Ali Niederkorn, contradizem o mito de que a ioga é um exercício físico, pois ela “oferece aulas de ioga baseadas na fé que encorajam à prática de ioga como forma de oração e meditação.” A legitimidade da prática de ioga por católicos é conseqüentemente não a de um exercício físico, mas de uma prática espiritual.
A ioga não é uma prática, teoria ou filosofia unificada e para nenhum de seus praticantes ela é um exercício exclusivamente físico. Ela é parte integral das práticas meditativas de três religiões diferentes: hinduísmo, jainismo e budismo, cada uma dando sua própria e distinta explicação do valor da meditação ióguica. A prática de ioga no Ocidente, em conseqüência, não mostra mais coerência do que no Oriente, mas em todo caso é herdeira de uma espiritualidade pagã que promete realizar uma espécie de comunhão com o divino. Ela é, portanto, parte integral do movimento da Nova Era, que pretende construir uma espiritualidade pós-cristã de acordo com a qual o homem chegaria ao divino por meio de uma comunhão com a natureza.
Roma já se declarou contra a prática de ioga por católicos em dois documentos pouco conhecidos. O primeiro, da Congregação para a Doutrina da Fé, intitulado Orationis Formas, ou Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre Alguns Aspectos da Meditação Cristã, datada de 15 de outubro de 1989, destaca as diferenças e as incompatibilidades entre a meditação cristã e os estilos de meditação usados nas religiões orientais, inclusive a ioga, alertando para “os riscos de se tentar fundir a meditação cristã com abordagens orientais, o que pode levar a confusão e erro e resultar na perda da natureza essencialmente cristocêntrica da meditação cristã”. Que eufemismo! Ela ressalta uma oposição radical: a meditação oriental é uma técnica de concentração em si mesmo, uma auto-absorção, enquanto a oração cristã é uma fuga de si mesmo, uma conversão de si a Deus.
Alertas semelhantes estão contidos em um livreto de 2003, um relatório publicado como resultado de reflexões de um grupo de trabalho composto de membros dos Conselhos Pontifícios para a Cultura e para o Diálogo Inter-religioso, da Congregação para a Evangelização dos Povos e do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade Cristã, intitulado Jesus Cristo, Portador da Água da Vida: Uma Reflexão Cristã sobre a Nova Era, como resposta a pedidos de esclarecimento a respeito dos fenômenos da Nova Era, tais como a ioga (www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils). Entre as muitas críticas à Nova Era, o que nos interessa aqui é o ensinamento de que as práticas da Nova Era não são compatíveis com a oração cristã:
As práticas da Nova Era não são realmente oração, no sentido de serem geralmente uma questão de introspecção ou fusão com a energia cósmica, em oposição à oração cristã, que envolve introspecção, mas é essencialmente um encontro com Deus.
Reitera-se o ensinamento católico fundamental de que Jesus Cristo, única fundação da Igreja, deve estar no coração de toda ação cristã, o que não é certamente o caso da Nova Era. Ressalta-se também que a espiritualidade da Nova Era deliberadamente obscurece a distinção essencial entre Criador e criação, entre realidade subjetiva e objetiva. Essa é uma perversão bem mais profunda do que a confusão moderna entre natureza e graça, pois destrói todo o sentido da realidade e o lugar do homem na criação de Deus, levando ao panteísmo.
Contudo, a prática de ioga entre católicos continua crescendo. Certamente isso se deve em parte ao vácuo espiritual criado pela perda da verdadeira espiritualidade após o Vaticano II e também porque esses relatórios jamais se transformaram em ensinamentos morais oficiais com punições canônicas para quem os infringisse. O movimento ecumênico proíbe qualquer condenação de falsas espiritualidades anticristãs.
É por essas razões que encontramos, surpreendentemente, afirmações mais claras vindas de alguns protestantes do que de bispos católicos. O Dr. Albert Mohler, por exemplo, Presidente do Seminário Teológico dos Batistas do Sul, fez um estudo sobre a ioga, analisando o livro recentemente publicado por Stefanie Syman, uma devota da ioga há 15 anos, intitulado O Corpo Sutil: A História da Ioga na América. Eis algumas de suas observações:
Syman descreve a ioga como uma prática variada, mas deixa claro que a ioga não pode ser totalmente separada de suas raízes espirituais no hinduísmo e no budismo. Ela também é direta quando explica o papel da energia sexual em praticamente todos os tipos de ioga, e da ritualização do sexo em algumas tradições da ioga... A maioria (dos cristãos americanos) parece não se aperceber de que a ioga não pode ser dividida na dimensão física e na espiritual. O físico é o espiritual na ioga, e os exercícios e disciplinas na ioga servem para conectar com o divino...
... Quando os cristãos praticam a ioga, eles devem ou negar a realidade do que a ioga representa ou não conseguir ver as contradições entre seus compromissos cristãos e sua aceitação da ioga. As contradições não são poucas, nem são periféricas. O fato é que a ioga é uma disciplina espiritual na qual o adepto é treinado para usar o corpo como veículo a fim de alcançar a consciência do divino...
(www.albertmohler.com)
Quais são exatamente essas contradições? Há certamente uma atitude diferente quanto ao corpo, que para o católico é um instrumento para nossa santificação apenas quando mortificado, quando espiritualmente entregue à morte, para que as inclinações da natureza humana decaída não sejam seguidas, enquanto que para o praticante de ioga é um meio de contato, de consciência do divino que está no homem, superando, como dizem, a dualidade entre o Criador e a criatura. O Dr. Mohler diz o seguinte, citando o Prof. Doug Groothuis:
O objetivo da ioga não é a purificação do corpo ou o embelezamento da psique; o fim da ioga é uma mudança na consciência, uma transformação da consciência na qual o homem se vê um com a realidade última que no hinduísmo é Brahman... maior impacto no Ocidente teve a escola vedântica ou não-dualista, que diz que em última análise tudo é um, ou seja, não dual, e tudo é divino. Assim, ao invés da perspectiva bíblica de que existe uma relação entre o Criador e a criatura, esta é uma idéia monista ou não-dualista de que tudo que existe é Brahma... e Brahma está além das palavras e além do pensamento. (Ibid)
Concluindo, não se pode negar que a prática de ioga é uma negação implícita da fé católica na divindade de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, e de uma verdadeira espiritualidade centrada em Cristo. Qualquer prática de ioga deve ser considerada um pecado mortal contra a fé chamado de indiferentismo. As pessoas que participam de tais instruções colocam em sério risco sua fé, e os que as praticam devem ser suspeitos de heresia, pois implicitamente promovem uma visão de mundo que é direta e explicitamente anticristã.”
(Pe. Peter Scott, May Catholics Practice Yoga?)