segunda-feira, 12 de julho de 2010

Operação Parricídio (III)


“Não há mais Vendéia”
O general Westermann eventualmente relatou ao comitê de salvação pública: “Não há mais Vendéia, meus concidadãos republicanos! Ela morreu sob nossos sabres junto com suas mulheres e filhos. Acabo de enterrá-los nos pântanos e nas florestas de Savenay. Seguindo vossas ordens, as crianças foram pisoteadas até a morte sob os cascos de nossos cavalos; as mulheres foram abatidas para que nunca mais possam trazer soldados ao mundo. As ruas estão cheias de cadáveres; em muitos lugares eles formam pirâmides inteiras. Em Savenay tivemos que usar massivos pelotões de fuzilamento pois suas tropas ainda estão se rendendo. Não fazemos prisioneiros. Deve-se dar-lhes o pão da liberdade; contudo, misericórdia não tem nada a ver com o espírito da revolução.” Westermann, contudo, logo encontrou sua nêmese; foi guilhotinado pouco tempo depois junto com seu amigo Danton.
Le Mans foi palco de mais brutalidades; mulheres, anciãos e crianças que se escondiam nas casas dessa grande cidade foram descobertos e, sob os olhares de Barbott e Prieure, tiveram suas roupas arrancadas de seus corpos a golpes de sabre e baioneta; mulheres e moças foram estupradas, e como não havia bastantes vivas para os “rapazes de azul”, os cadáveres foram também violados. Essa orgia parcialmente necrófila terminou quando a multidão, para alegria dos soldados do governo, amarrou os cadáveres juntos como “baterias republicanas” como haviam feito em Arras. Em Angers, contudo, a multidão decapitou os que já havia enforcado e exigiu dos médicos que preparassem as cabeças para que as colocasse nas ameias das muralhas ao redor da cidade. Como os médicos estavam trabalhando muito devagar, a multidão rapidamente decapitou outro grupo de prisioneiros, entre os quais estava uma pia abadessa de 82 anos.
Marchas da morte
Outro divertimento dos “Bleus”, que referiam-se a si mesmos como colonies infernales, era assar homens e crianças em fornos de padaria. A fim de extrair o máximo de prazer sádico de tais práticas, as vítimas eram colocadas em fornos frios, que eram depois aquecidos. Um general que não conseguia acabar com esse tipo de diversão entre suas tropas – Mergeau Desgraviers – tornou-se tão melancólico que ficou feliz de morrer em 1796 na batalha contra os austríacos. Disseram ao general Turreau que seus soldados se comportavam pior que canibais; contudo, ele mesmo havia dado ordem de queimar todas as casas (o que também se fez). Por toda parte podiam-se ver as batteries nationales feitas de cadáveres humanos. Turreau, o líder dessas Promenades, como as marchas da morte eram chamadas, acabou tendo uma longa e próspera carreira. De 1803 a 1811 foi o embaixador francês nos Estados Unidos (onde trabalhou na aliança contra a Inglaterra); mais tarde foi imortalizado em pedra na face oriental do Arc de Triomphe.
Como já tínhamos mencionado, os girondinos não deixavam de estar menos envolvidos em tais atrocidades que os jacobinos. Barère, que começou a carreira como girondino, declarou que pretendia transformar a Vendéia em um cemitério. São, contudo, especialmente as unidades promovidas nos últimos anos da revolução que revelam seu caráter completamente sádico e masoquista. Porque os homens da Vendéia lutaram na batalha, a expiação tinha que ser feita por suas mulheres e crianças – mesmo as menores delas. (Os britânicos fizeram a mesma coisa em princípio nos seus campos de concentração durante a Guerra dos Bôeres.) Na Vendéia, contudo, um esporte particularmente popular entre os Azuis era arremessar crianças pela janela e pegá-las usando baionetas. Igualmente popular era a prática de retalhar mulheres grávidas para cortar suas crianças não-nascidas em pedaços e então deixar suas mães sangrarem até a morte. Outras mulheres grávidas eram mortas esmagadas em prensas de vinho e frutas. Também era popular a queima de vítimas em casas e igrejas. Essa sede de sangue cresceu com tanta veemência que o comandante Grignon deu ordem para que todo aquele que encontrassem era para ser imediatamente morto, ainda que fosse republicano. Um caso particularmente pavoroso envolveu uma jovem que foi atada nua a dois galhos de árvore depois de ser estuprada e ainda sofreu repetidas tentativas de cortá-la ao meio. Aos Bleus não faltava nada em termos de imaginação. Em retrospecto, podem-se ver todas as dificuldades, os sofrimentos sem fim que os violadores “progressistas” de pessoas, túmulos e igrejas trouxeram sobre toda a Europa. (Os interiores das velhas igrejas francesas ainda hoje mostram o que esses bárbaros brutais destruíram.)
Algo positivo?
A Revolução Francesa deixou algo positivo para a posteridade? Apenas o sistema métrico, que reconhecidamente se desenvolveu a partir da predileção democrática por medição e contagem infinitas. Que dizer então da Déclaration des Droits de l'Homme et du Citoyen? Foi um documento puramente antropocêntrico, um produto tipicamente declamatório do primeiro Iluminismo, concebido em 1789 e finalmente enxertado na constituição da República Sadista em 1793. Nos livros escolares lê-se sobre o período do terror: “Le Terreur était terrible mais grande!” Mesmo assim um grande número de moderados também passou pelo fio da espada. Historicamente eles o mereceram, por não terem considerado o que acontece quando se destrói a velha ordem. Charlotte Corday d'Armont, uma girondina entusiástica, assassinou o sedento de sangue Marat e foi executada; André de Chénier, o grande poeta lírico liberal, morreu no cadafalso; o Marquês de Condorcet, ideólogo líder dos “moderados”, cometeu suicídio para escapar da chére mère. Madame Roland de la Planière, outra girondina, exclamou, no lugar onde seria executada, “Ó liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome!” (Metternich, por sua vez, comenta que, em face de uma tão florescente “fraternidade”, se tivesse um irmão passaria a chamá-lo de primo.) Especialmente trágico foi o destino de Chrétien de Malesherbes, um liberal altamente erudito que permaneceu fiel ao rei. Ele defendeu Luís XVI e teve de aguardar enquanto via sua filha, seu genro e seus netos serem decapitados antes que a guilhotina pusesse fim ao seu próprio desespero.
Não se deve esquecer que muito daquilo que hoje pode nos parecer positivo – liberalidade, intelectualidade, humanitarismo – já havia sido trazido até nós pelo absolutismo cortês e liberal, enquanto a Revolução Francesa, que usou todas essas palavras, de fato nada mais fez do que extingui-las brutalmente. Lembramo-nos da reação de Caffinhals, que respondendo ao tumulto criado pelos defensores de Lavoisier, que gritavam, “Vocês estão condenando um homem culto à morte”, disse, “A Revolução não precisa de homens cultos.” O bom homem estava certo; pois para a Revolução Francesa somente quantidades, cifras e números têm qualquer valor. O discurso da elite quase não é mais tolerado.
De um ponto de vista intelectual, a Revolução Francesa foi um conglomerado de inconsistências impensadas mas fanaticamente cridas e mostrou claramente, como tantas outras revoluções o fizeram, o verdadeiro caráter da grande maioria do Genus Humanum.
Na Revolução Francesa a escória da França sucumbiu à sede de sangue e abriu as portas ao mal. Em nossa época de estultificação eletrônica, é uma aposta certa que hoje, 200 anos depois, essa monstruosidade será o centro de celebrações orgiásticas. O homem comum sempre se apega desesperadamente a clichês. Se os mesmos lhe são tirados, ele tem de fazer sua própria pesquisa, pensar e decidir por si mesmo e começar tudo de novo. Não se pode realmente esperar esse tipo de comportamento elitista de sujeitos tão miseráveis. Aqueles a quem os deuses querem destruir, primeiro os enlouquecem.”
(Erik von Kuehnelt-Leddihn, Operation Parricide: Sade, Robespierre & The French Revolution)

Um comentário:

  1. Obrigado por compartilhar, eu não conhecia esses detalhes sobre a Revolta da Vendéia. Essa parte da história me é sempre ensinada de modo muito asséptico, afinal é na Revolução Francesa que nosso mundo se funda, é preciso apagar seus crimes e satanizar suas vítimas...

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