segunda-feira, 14 de junho de 2010

Matthias Scheeben e a natureza da justificação cristã


“O mistério do estado original leva-nos ao mistério do estado de graça característico do Cristianismo, mas por essa mesma razão a justificação cristã deve ser considerada nos termos de sua oposição, do mistério do pecado. Contudo, o pecado que a justificação cristã destina-se a destruir não pode ser considerado simplesmente segundo seu lado natural, como o desvio da ordem natural. O pecado deve aqui ser considerado conforme o caráter misterioso que ele possui em sua oposição à ordem sobrenatural da graça, particularmente da graça do estado original. Nesse contexto, o estado de pecado é mais do que uma desordem da vontade. É uma completa alienação e separação do homem em relação a Deus e seu fim sobrenatural, e encontra em Deus não apenas um simples desgosto – envolvendo desfavor no sentido moral – mas também uma ejeção violenta do estado das crianças de Deus, um despojamento das vestes sobrenaturais da graça. A fim de unir de novo os fios cortados do vínculo sobrenatural com Deus, nenhuma mudança na direção da vontade do homem será suficiente. Se o homem deve-se reunir a Deus como seu Pai, Deus mesmo deve pô-lo de pé novamente ao Seu lado e, por meio do Espírito Santo, derramar no coração do homem o amor filial a Deus. Se o pecador deve-se libertar do desfavor de Deus, de maneira nenhuma bastará que Deus cubra os feitos pecaminosos com o manto do esquecimento e simplesmente remita a culpa em resposta ao arrependimento do pecador. Para perdoar o pecado completamente, Deus deve de novo conferir ao homem o mesmo favor e graça que lhe deu antes que ele pecasse. Deus deve novamente trazer o homem a Seu seio como Sua criança, regenerá-lo para a nova vida divina e vesti-lo de novo com a vestimenta de Seus filhos, o esplendor de Sua própria natureza e glória. Só assim pode a justificação completa e perfeitamente exterminar o pecado como existe concretamente em seu caráter misterioso. Dessa forma, a justificação mesma, que abole um mal tão misterioso, deve ser reconhecida como um mistério sobrenatural, e conseqüentemente o mistério do pecado, como também o mistério da justiça original, olha para a justificação como um terceiro mistério, que destrói o primeiro e restaura o segundo.”
(Matthias Scheeben, Die Mysterien des Christentums)

Nenhum comentário:

Postar um comentário