sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O suicídio intelectual do liberalismo ocidental


“O argumento da dúvida proposto por Locke em favor da tolerância diz que devemos admitir todas as religiões desde que é impossível demonstrar qual delas é verdadeira. Isso implica que não devemos impor crenças que não são demonstráveis. Apliquemos tal doutrina aos princípios éticos. Segue-se que, a menos que os princípios éticos possam ser demonstrados com certeza, devemos nos resguardar de impô-los e devemos tolerar sua completa negação. É claro, contudo, que os princípios éticos não podem ser demonstrados, em sentido estrito; não se pode provar a obrigação de dizer a verdade, de preservar a justiça e a misericórdia. Seguir-se-ia, portanto, que um sistema de mendacidade, de ilegalidade e crueldade teria de ser aceito como alternativa aos princípios éticos e com os mesmos direitos. Mas uma sociedade em que a propaganda inescrupulosa, a violência e o terror prevalecem não oferece espaço à tolerância. Aqui a inconsistência do liberalismo baseado na dúvida filosófica torna-se clara: a liberdade de pensamento é destruída pela extensão da dúvida ao campo dos ideais tradicionais, que inclui a base para a liberdade de pensamento.”
(Michael Polanyi, The Eclipse of Thought)

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