segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Otto von Bismarck e a Kulturkampf contra a Igreja


“Finda a guerra com a França, Bismarck havia criado um espírito de unidade nacional. O povo alemão, que até pouco tempo dedicara sua lealdade a vários principados independentes, sentia agora que pertencia a um Reich (Império) alemão unido, governado pelo Kaiser. Porém, logo após a guerra com a França, Bismarck começou a antagonizar amplos setores da população da Alemanha. Sistematicamente, criou profundas divisões sociais dentro da nação que unificara politicamente.
Seu primeiro alvo foi a Igreja Católica. A Prússia e a Alemanha do Norte eram predominantemente protestantes, mas, com a absorção da Alemanha do Sul e da Alsácia-Lorena, o Império passou a incluir uma significativa minoria católica. Em geral, os liberais do século XIX desconfiavam da política do catolicismo romano e Bismarck compartilhava dessa desconfiança. E ela se tornou mais acentuada quando, em 1871, o Partido do Centro, organizado pelos católicos alemães, ganhou 58 cadeiras no Reichstag, a Câmara Baixa do novo Parlamento Imperial. Embora esse partido dissesse defender estritamente os interesses do catolicismo, conseguiu granjear o apoio de todos aqueles que não apoiavam o trabalho de Bismarck, como, por exemplo, os protestantes de Hanôver. Bismarck, que sempre manifestara preconceitos anticatólicos, deixou, nesse momento, toda sua intolerância vir à tona. Ele via o Império como uma criação sua e acusava todo oponente seu como um Reichsfeind (inimigo do Império). Por outro lado, ele acreditava que a unidade poderia ser mais facilmente assegurada se houvesse um objetivo para atacar, e o Centro se prestava a esse objetivo, uma vez que a Alemanha não tinha no momento inimigos externos. Conseguiu então o apoio do Partido Liberal Nacional para desencadear uma campanha contra a Igreja Católica, a Kulturkampf (“luta da cultura” contra a Igreja).
Em 1871, o governo prussiano começou a controlar as escolas católicas. Em 1872, os jesuítas (uma ordem religiosa católica com tradição de lealdade ao papa e voltada para o ensino superior) foram expulsos da Alemanha. As Leis de Maio de 1873 tentaram colocar a Igreja Católica sob o domínio do governo prussiano. No dia 13 de julho de 1874, um policial católico atirou no chanceler quando passava de carruagem em Kissingen, onde visitava as fontes de água mineral da cidade. A bala errou o alvo, apenas roçando a mão direita de Bismarck. Este acusou o Partido do Centro como responsável pela tentativa de assassinato.
A Kulturkampf foi um desastre. Muitos católicos alemães tinham se desgostado com a declaração de infalibilidade do papa, ocorrida em 1870, por ocasião do primeiro Concílio do Vaticano; porém, em resposta à repressão de Bismarck, aliaram-se à Igreja. Na Prússia, a hierarquia eclesiástica preferiu a prisão a submeter-se ao governo. O Partido do Centro, longe de ser anulado, aumentou sua representação para 94 cadeiras nas eleições de 1874 e tornou-se uma fortaleza de oposição a Bismarck.”
(Jonathan Rose, Bismarck)

Um comentário:

  1. "Não iremos a Canossa", era o lema desse movimento, em alusão ao imperador Henrique, na época da Questão das Investiduras. Ee não me engano, Canossa fica na Itália, e o imperador foi até lá, como penitente sob a neve inclemente, pedir perdão ao papa (cujo nome me foge da memória) pelas duras provas impostas à Igreja.
    Tirando Bento XVI, faltam católicos sinceros na Alemanha atual...

    ResponderExcluir