“A dor aceita voluntariamente é a medida de toda grandeza; porque não há grandeza sem sacrifício e o sacrifício não é outra coisa que a dor voluntariamente aceita... Na dor há um não sei quê de fortalecedor e de viril e de profundo, que é origem de toda heroicidade e de toda grandeza... Pelo contrário, aquele que deixa as dores pelos prazeres logo começa a decair com um progresso ao mesmo tempo rápido e contínuo... com o hábito de ceder, perde até a memória do esforço. No prazer há um não sei quê de enervante, que leva a morte calada e escondida... O homem deixa ali como em despojos a pujança de sua vontade, a virilidade de seu entendimento, e perde o instinto das grandes coisas... Há, pois, algo de maléfico e de corrosivo no prazer, como há algo na dor de purificante e de divino... Aquele que aceita livremente a dor sente em si certo prazer espiritual que fortifica e levanta; do mesmo modo aquele que se deixa controlar pelos prazeres sente em si certa dor que em vez de fortalecer enerva e deprime. A dor é aquela pena universal a que pelo pecado ficamos todos sujeitos... pelo prazer vamos à dor, que é pena, e pela resignação e pelo sacrifício à dor, que é remédio. Pois que loucura é a dos filhos de Adão, que não podendo fugir da dor, fogem do que é remédio, para cair no que é pena? ... Como Deus é maravilhoso em todos seus desígnios, e quão admirável naquela arte divina que consiste em tirar o bem do mal, a ordem da desordem, e todas as harmonias de todas as dissonâncias.”
(Juan Donoso Cortés, Carta ao diretor da “Revue des Deux Mondes” em Refutação a um artigo de M. Alberto de Broglie)