terça-feira, 13 de agosto de 2024

Mao estava disposto a sacrificar metade da população da China pela vitória da revolução mundial


“Perto de trinta e oito milhões de pessoas morreram de fome ou de exaustão no curso dos quatro anos que durou o ‘Grande Salto Avante’. Esta cifra, o próprio Liu Shao-Chi, número dois de Mao, a confirmou (...) “Esta fome foi a pior do século XX ‒ e até de toda a História. Mao causou conscientemente a morte dessas dezenas de milhões de pessoas esfomeando-as e esgotando-as pelo trabalho. (...) “Para dizer tudo, Mao previra um número de vítimas mais considerável ainda. Ainda que o 'Grande Salto' não tivesse outro objetivo que eliminar chineses, Mao estava pronto para que houvesse hecatombes e fez entender aos dirigentes que eles não deveriam se mostrar chocados se acontecessem. “No Congresso de 1958, no qual foi dada a partida do ‘Grande Salto’, ele explicou a seu auditório que se pessoas morriam em conseqüência da política do Partido, não seria preciso se assustar, mas se regozijar. (...) “A morte é verdadeiramente uma causa de regozijo (...). Dado que nós acreditamos na dialética, não podemos ver nela senão um benefício”. “Esta filosofia, ao mesmo tempo despachada e macabra, foi transmitida de degrau em degrau até os dirigentes de base. (...) “Nós estamos dispostos a sacrificar 300 milhões de chineses pela vitória da revolução mundial” declarou em Moscou em 1957, ou seja, a metade da população de então. Ele o confirmou diante do Congresso do Partido, em 17 de maio de 1958: “Não façam, pois, tantas histórias a propósito de uma guerra mundial. Na pior das hipóteses, ela causará mortes (...) a metade da população desapareceria (...) a melhor das hipóteses é que uma metade da população fique com vida, se não pelo menos um terço...” “Mao não pensava somente na guerra. Em 21 de novembro de 1958, evocando diante de seus conselheiros mais próximos os projetos que exigiriam mão de obra enorme, como as campanhas de irrigação e o fabrico de aço, ele declarou, reconhecendo de modo implícito e quase boçal que os camponeses que não tinham o que comer deviam se matar no trabalho: “Trabalhando desse modo, em todos esses projetos, a metade dos chineses deverá talvez morrer. Se não é a metade, será talvez um terço, ou um décimo ‒ digamos 50 milhões de pessoas”.”
(Jung Chang e Jon Halliday, Mao)