segunda-feira, 10 de dezembro de 2018
O estilo rebuscado é próprio das almas fúteis
“Quando vires alguém com um estilo rebuscado e cheio de adornos podes ter a certeza de que a sua alma apenas se ocupa igualmente de bagatelas. Uma alma verdadeiramente grande é mais tranquila e senhora de si a falar, e em tudo quanto diz há mais firmeza do que preocupação estilística. Tu conheces bem os nossos jovens elegantes, com a barba e o cabelo todo aparado, que parecem acabadinhos de sair da fábrica! De tais criaturas nada terás a esperar de firme ou sólido. O estilo é o adorno da alma: se for demasiado penteado, maquiado, artificial, em suma, só provará que a alma carece de sinceridade e tem em si algo que soa falso. Não é coisa digna de homens o cuidado extremo com o vestuário! Se nos fosse dado observar 'por dentro' a alma de um homem de bem — oh! que figura bela e venerável, que fulgor de magnificente tranquilidade nós contemplaríamos, que brilho não emitiriam a justiça, a coragem, a moderação e a prudência! E não só estas virtudes, mas ainda a frugalidade, o autodomínio, a paciência, a liberalidade, a gentileza e essa virtude, incrivelmente rara no homem, que é a humanidade — também estas fariam jorrar sobre a alma o seu sublime esplendor! E mais ainda, a presciência, o juízo crítico e, acima de todas, a magnanimidade — oh! deuses, quanta beleza, quanta severa dignidade não acrescentariam à figura, quanta autoridade e graça se não juntariam nela! Ninguém contemplaria tal figura sem a declarar tão digna de amor como de respeito.”
(Sêneca, Cartas a Lucílio)