domingo, 25 de novembro de 2018

Religião revelada ou “religião dialogada”?


"O demolidor plano lucidamente projetado pelo neomodernismo desde os inícios do concílio Vaticano II chegou à sua completa maturação: sua decisiva instalação nos vértices da Catolicidade reforçou seu devastador influxo, concorrendo a desqualificar como intolerável desobediência à Hierarquia e a seus decretos a devida negação a uma “pastoral” fundada em falsos princípios ideológicos, que implicam a inatural redução das verdades do Depositum Fidei às variadas inclinações psicológicas de alguns fiéis cada vez mais desorientados pela desenvolta práxis inovadora difundida na suposta “igreja conciliar”.
Cremos inoportuno insistir na necessidade de desentranhar as insídias implícitas nas reiteradas referências neomodernistas à tranquilizadora predisposição conciliadora do diálogo, que contribui a enraizar os interlocutores na persuasão injustificada da impossibilidade de deduzir valorações e crenças de fontes superiores ao pretendido e indiscutido valor do conhecimento individual.
A arma psicológica empregada com altiva falta de escrúpulos pelos fautores do falso pressuposto da relatividade de toda afirmação e da conseguinte proibição de violar sua afirmada respeitabilidade é dada pela envilecedora repetição do sofisma agnóstico que considera a aspiração ao conhecimento e à posse da verdade como resíduo de um dogmatismo contrário à razão; a este respeito, não se pode deixar de perceber o curioso paradoxo pelo qual o pensamento laicista, por um lado, reivindica a presunçosa autossuficiência da razão, e por outro se apressa a libertá-la do dever de reconhecer a lei natural e a Verdade revelada em Cristo e em Sua Igreja.
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No "diálogo" celebrado por quem afirma o “aggiornamento” conciliar, a verdade religiosa sofre distorções que derivam da forçada relativização à qual a racionalidade moderna submete toda proposição de tipo dogmático; se a philosophia perennis reconhecia no diálogo uma possível aproximação à busca de um conhecimento mais elevado e mais livre de preocupações subjetivistas, a cultura negadora da noção mesma de verdade ambicionou criar por sua vez um cômodo sucedâneo oportunamente predisposto para afirmar a tão trombeteada tolerância que se materializa na mais ampla abertura ao erro e no mais rigoroso ostracismo da Verdade.
A confrontação, concebida com base nos termos acima descritos, determina a regressão da razão a mero instrumento capaz de convalidar as turvas paixões que alimentam a opinião pública, persuadida de substituir a culpável deserção da Fé pelas pequenas ou grandes mentiras sancionadas pelo aplauso democrático da maioria.
Estas considerações permitem entender a direção fundamental do pontificado bergogliano, que, não obstante os juízos que tendem a situá-lo no prosaico marco dos tons modestos e improvisados de numerosas intervenções papais, revela-se caracterizado por uma decidida e precisa vontade de superar as barreiras e as incompreensões entre as religiões, facilitando assim a constituição daquela "superigreja" firmemente desejada pelos seculares inimigos do catolicismo.
Em conversa que remonta a junho passado, o Papa, comentando a passagem bíblica relativa ao mandamento dado por Deus aos pais de abster-se de comer o fruto da árvore do conhecimento no Paraíso terreno, afirmou que a Palavra divina não tem nenhuma conotação autoritária, que a salvaria do risco de cair na armadilha de uma perspectiva agradável a quem persevera desonesta e contraditoriamente no apontar o relativismo como a única verdade incontroversa.
Torna-se claro que, cedendo aos condicionamentos da perdurante mentalidade iluminista, as instâncias vinculantes e inderrogáveis da Fé e do Decálogo se desvanecem nas interpretações relativizantes de um renovado e infrutífero exercício hermenêutico.
A preparada e humilhante subjacência do Dogma e da moral aos ditames do saber profano obriga a falar de um cumprimento dos auspícios prévios à convocação e aos desenvolvimentos do concílio Vaticano II.
Durante uma alocução, ao final daquela histórica reunião e dirigida a expor um global reconhecimento de seu desenvolvimento e de seus resultados, o papa Paulo VI delineava o apavorante cumprimento da desejada convergência entre a religião do Deus que se fez homem e a contrarreligião do homem que se faz Deus; ao citado e funesto acordo são reconduzíveis as desconsideradas "aberturas" e as desoladoras capitulações que prepararam a catastrófica situação em ato na Igreja.
Igualmente distante da congelante avidez de maus humores pessimistas e das pueris aventadas euforias, o realismo cristão nos exorta a viver os presentes e dolorosos acontecimentos na certeza de que – como admoestavam inclusive os grandes pensadores anteriores à Revelação Divina – a verdade, enquanto eterna e absoluta, não pode adequar-se ao variar dos tempos."

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