"Todos conhecemos a parábola do fariseu e do publicano, a qual conserva uma tremenda atualidade.
Os fariseus de ontem, aqueles do tempo de Jesus, se distinguiam dentre os demais homens vangloriando-se de estarem à vanguarda na observação escrupulosa da Lei. Chegaram a esmiuçar as Escrituras a tal ponto que nelas determinaram 613 preceitos os quais compreendiam 248 ordens e 365 proibições.
O amor de Deus, a salvação da alma, restava reduzido para eles a um revestir-se de gestos e palavras, o que era necessário dizer, o que não havia que fazer ou que não havia que dizer.
Ou seja: 248+365=613 e tu entras no Paraíso!
Essa é a religião do Código, da letra que deve ser aplicada, é o Judaísmo no qual não tem lugar o amor de Deus, que leva a obedecer os mandamentos. É a religião da letra que mata o espírito. O orgulho é o selo distintivo do fariseu e sua religião, por isso despreza a quem não faz como ele ou não conhece a Lei tão bem como ele. Foi assim que os fariseus começaram por dar morte aos melhores servidores de Deus, os profetas e terminaram promovendo a morte de Cristo, o Filho de Deus. O homicídio desembocou no deicídio. Esse foi o farisaísmo de ontem.
No de hoje a situação é inversa. Vemos que se gabam por exemplo de não dar importância ao jejum, mas sim de saber tudo sobre o Ramadã, embora na realidade nada da quaresma. O novo farisaísmo, diríamos o farisaísmo nova onda, - de acordo com o Vaticano II – chega a sentir-se satisfeito de não estar já ligado tão estritamente aos preceitos da Igreja e até ironizar sobre os sacramentos da Santa Igreja; além disso, encontrar a lei moral indigna de nossa dignidade humana e até contrária aos sagrados direitos do homem.
O fariseu de hoje em seu "diálogo fraternal com Cristo" exclama:
"Ó Senhor!, eu te dou graças de não ser tão católico ao modo de um pároco de outras épocas ou como eram meu pai e minha mãe.
Ó Senhor!, eu te dou graças por haver-me isentado da esmola arcaica e paternalista. Agradeço-te por haver encontrado uma fé adulta e responsável, sem aquelas práticas morais de antanho. Dou-te graças por ser um cristão evoluído, um cristão de meu tempo que não mais crê nessa história de pecado original, pecados capitais, pecado mortal e ainda o venial e enfim, digamos simplesmente, no pecado.
Obrigado Deus meu porque cheguei a ser um cristão "bem desenvolto e de bom gosto", um crente livre de sujeição, não praticante, é certo, mas melhor que aqueles que vão às igrejas".
Tal é o farisaísmo atual, falsamente tolerante, ou melhor digamos, intolerante. Tolera os gestos, embora com um sorriso irônico de indulgência quando vê seus irmãos persignarem-se, ajoelharem-se, participarem de procissões ou peregrinações, defenderem sua fé, suas escolas etc; mas não tolera nem suas idéias nem sua fé, considerando-as como estranhas às crenças que ele fabricou para si mesmo. Estabeleceu seus dogmas e sua igreja. A fé da Igreja é para ele o que chama de integrismo, coberto de poeira, o medieval, o passado, o antigo, que já não vai. Ele é um evoluído, é adulto em sua fé.
O fariseu de ontem, matando os profetas, depois a Cristo, começou por homicídio e terminou no deicídio. O fariseu de hoje começa pelo deicídio. Causa a morte de Deus na alma daqueles com quem trata ou sobre quem tem influência como mestre espiritual; pretendendo-se sem pecado, dedica-se a liberar do sentimento de culpa seus irmãos e a fazê-los evoluir. Daí que já seja desnecessário falar de pecado ou de salvação eterna ou de Cristo que a dá; e então para quê os Sacramentos e que necessidade da Igreja para distribuí-los? Que a festa continue!, é a Satisfação contínua, que encobre as consciências para melhor sufocá-las.
Existem muitas espécies de fariseus; como disse Nosso Senhor, não julguemos mas os desmascaremos, coloquemo-los novamente em seu lugar. Não temamos nem sua língua, nem sua fortuna, nem seu orgulho, porque Deus mesmo resiste aos orgulhosos; e sobretudo roguemos a Deus que nos livre de chegar alguma vez a essa tristíssima situação."
(R.P. Xavier Beauvais, F.S.S.P.X, Fariseos de Ayer e Hoy)
El martirio según el martirologio
Há 3 dias