quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Todo cuidado é pouco com os liberais

Todo cuidado é pouco com os liberais (hoje em dia querem ser chamados de “conservadores”), tanto os teístas como os coerentes até as últimas conseqüências com sua doutrina. Os teístas poderiam parecer menos perigosos, mas não são. Caberia perguntar-lhes: se o homem se afasta dos mandamentos de Deus, como pode ainda dizer que acredita nEle, e não somente em si mesmo? Como pode dizer que O ama, se não acredita que Ele especificou como quer ser adorado? Um deus que não tivesse detalhado isso ao homem e que deixasse de lado qualquer código moral para aperfeiçoamento de sua criatura racional seria um deus odioso e injusto. Um deus que não se revelasse, que deixasse unicamente à razão natural do homem sua descoberta e nisso terminasse sua relação com o homem, seria um deus sem amor, e com isso não haveria motivo para que tivesse criado nem o homem, nem o universo. Pois não basta crer em Deus, se é verdade que se crê; é preciso também amá-Lo. Além disso, a liberdade que o liberal busca é a de praticar o mal, e o mal não está em Deus. Um liberal teísta é, portanto, uma contradictio in adjecto.
Os liberais coerentes apenas conservam um momento passado da revolução, mas não chegam a considerá-la intrinsecamente má; não gostariam de voltar ao estado anterior a ela, se isso fosse possível. São os que não temem ir até o fim nas conseqüências de sua ideologia, os que esquecem a dimensão sobrenatural e tratam da vida como se o homem por si mesmo e contando somente com suas forças naturais pudesse melhorar as condições de sua existência. Mas não pode, como Nosso Senhor mesmo afirmou. Sem Sua ajuda somos galhos secos que só prestam para ser lançados ao fogo. O homem sem a graça divina é mero joguete nas mãos dos demônios. Nestas condições até suas mais nobres realizações começam a agir contra ele mesmo. Por isso, os artifícios pirotécnicos de estilo podem encantar e atrair seguidores, mas a longo prazo as propostas dos liberais não terão efeito, em razão justamente dessa ausência de consideração da sobrenaturalidade; e tal não poderia ainda ser diferente, considerando que são descendentes espirituais dos mesmos liberais jacobinos determinados a destruir trono e altar. Na sanha de destruição da Igreja, propunham também a destruição dos canais da graça divina; e sem esses canais, a humanidade não tem mais como amenizar os efeitos nefastos do pecado original. Hoje seu discurso pode parecer menos radical, pois foram o segundo momento da Revolução, já ultrapassado por outros mais radicais, um discurso que no entanto guarda ainda este impulso negativo fundamental, que eles deixam para expor em momentos bem escolhidos. Por não acreditarem na existência de uma verdade objetiva e colocarem o homem no lugar de Deus, tais "conservadores" acabam defendendo posições em perfeita negação da lei natural, como os que apóiam a contracepção e o aborto. Isso deveria servir de alerta aos católicos que já são iludidos por sua própria hierarquia; não devem aceitar cegamente suas teses, por mais sedutoras que pareçam, pois no fundo não se ordenam ao pensamento de Deus, padecendo de defeitos fundamentais.