“A afirmação de que o espiritismo é, de si, anticristão, isto é, que é tal por sua própria natureza, vale tanto para o baixo espiritismo de terreiro, como para o chamado espiritismo científico ou racionalista, kardecista. Realmente, ambos professam doutrinas essencialmente opostas ao Cristianismo.
A principal doutrina do espiritismo, e que é o seu dogma fundamental, é a reencarnação. Professada por Alan Kardec e por algum outro filósofo pagão da antiguidade, este grave erro consiste em afirmar que a alma de uma pessoa, após a sua morte, fica vagando pelo espaço. E isso até conseguir se reencarnar em algum novo indivíduo humano no momento da concepção, a fim de que, sofrendo neste mundo, pague por pecados cometidos em outra existência terrena. Vejamos os absurdos dessa esdrúxula doutrina e sua contradição com verdades fundamentais do Cristianismo.
Limitando-nos à reencarnação no mesmo nível, e não à regressiva em algum animal irracional, que é professada por muitos espíritas, podemos supor duas hipóteses:
Uma, a de ser maior o número de mortes do que de nascimentos. Então teríamos de imaginar uma grande competição entre essas almas vagantes no espaço no momento de alguma nova concepção à espera de uma chance de voltarem a este mundo à procura de sofrimento. E nesse caso a reencarnação não seria um castigo, como afirma o espiritismo, mas um cobiçado benefício.
Outra hipótese é a de ser maior o número de nascimentos, como acontece na realidade. Então, ou muita gente já está nascendo sem alma, ou chegará um tempo em que isso irá acontecer pelo inevitável déficit de almas a se reencarnarem. E que pensar da desproporção entre o número de habitantes da terra agora, e o de há cinco mil anos atrás?
E mais: como o nível de comportamento moral dos homens, em geral, piorou muito neste século com a grande degradação moral dos costumes na sociedade atual, um grande número de almas regressarão ao espaço com mais pecados do que vieram. Então o resultado seria o inverso da própria finalidade da reencarnação. De qualquer modo, o círculo deverá repetir-se sempre, pois o indivíduo, em sua existência terrena, sempre peca. Sobretudo se prescinde da sua reabilitação sobrenatural em Cristo, único meio de verdadeira redenção.
Além desses absurdos e contradições, que se notam à primeira vista pelo simples raciocínio, veremos a seguir outros graves erros que estão incluídos nessa incrível invenção espírita. Eis alguns:
A) Tem que se pressupor a pré-existência das almas ou espíritos humanos em número quase infinito para atender à crescente demanda dos novos seres humanos concebidos. Realmente, é necessário que se apele para isso, caso se queira evitar a contradição do “déficit” acima apontado. Esse pressuposto, já com tantas contradições, inclui o abominável erro panteísta da emanação dos espíritos por via de divisão do Ser divino. Então cada alma é partícula de Deus.
Além disso, nega-se a intervenção de Deus, criando cada alma individualmente, no momento devido. Nega-se, pois, a nossa condição de criaturas de Deus, para fazer de nós “deuses decaídos”.
B) Afirma-se ainda o absurdo de uma reencarnação ser para sofrer por pecados de que não se tem a mínima consciência, condição necessária para qualquer ato humano e meritório e, pois, expiatório. E mais: sem os méritos de Cristo, os atos humanos não têm o devido valor expiatório. Para tanto devem estar associados aos de Cristo, causa meritória de valor infinito.
C) Daí um outro grave erro anticristão da doutrina espírita: cada um se redime a si mesmo. Se assim é, quem conseguisse em suas sucessivas e hipotéticas reencarnações pagar pelos seus pecados, tê-lo-ia feito exclusivamente por suas próprias forças naturais, independentemente das graças sobrenaturais provenientes dos merecimentos de Jesus Cristo. Em outras palavras, cada um seria “redentor” de si próprio. No entanto, segundo a divina Revelação, fora de Cristo não há redenção (At. 4,12).
D) Ademais, a reencarnação é erro frontalmente contrário a outro ponto da divina Revelação. De fato, lemos na Bíblia: “Lembra-te de teu Criador no tempo da juventude (...), antes que a poeira retorne à terra...; e antes que o sopro de vida retorne a Deus que o deu.” (Ecl. 12, 1-7) E mais: “Está estabelecido que o homem morra uma só vez, e depois disso haverá o juízo.” (Heb. 9, 27) E o resultado desse julgamento divino será definitivo. E será segundo o que cada um tiver merecido (Lc. 23,43; Mt. 25,31-34 e 41). E nada de reencarnação.
E) O espiritismo nega, também, tanto a Divindade de Cristo como a sua Redenção. Trata-se, porém, de verdades bem claramente contidas na divina Revelação. Sobre a sua Divindade bastam essas afirmações de Jesus: “Eu e o Pai somos Um” (Jo. 10,30); “Quem vê a Mim, vê ao Pai” (Jo. 14,9); e sobre a necessidade de sua Redenção para a nossa salvação, está revelado: “Nenhum outro nome nos foi dado pelo qual possamos ser salvos, a não ser Jesus Cristo, Nosso Senhor” (At. 4,12). Para o espiritismo, porém, Jesus é apenas “o Doce Rabi da Galiléia” ou um grande médium, talvez. Mas nunca “o Filho de Deus feito Homem” para salvar os homens.
F) Outro erro do espiritismo é a evocação dos mortos com o fim de conhecer coisas ocultas, e outras práticas semelhantes. Tudo isso é explicitamente condenado na Bíblia em muitas passagens. Assim em Deuteronômio, 18, 10-12: “Não se ache no meio de ti quem... se dê à adivinhação, à astrologia, ao feiticismo, à magia, ao espiritismo, à evocação dos mortos, porque o Senhor, teu Deus, abomina os que se dão a essas práticas”.
G) Por fim, o espiritismo, para se fazer crer, se exercita em várias práticas supersticiosas, desde o baixo curandeirismo até as chamadas sessões que chamam de materialização dos espíritos. Mas tudo não passa ou de fraudes e truques, como o demonstrou o Pe. Herédia em “Fraudes espíritas e fenômenos metempsíquicos”, ou de falsas curas por efeito de sugestão em pessoas portadoras de alta carga emotiva e por isso vítimas de fácil manejo nas mãos de hábeis hipnotizadores. Quando não é, em ambos os casos, efeito de influências diabólicas, pois Satã pode muito bem se aproveitar dessas práticas supersticiosas para se manifestar e seduzir os crédulos e desprevenidos.
A razão dessas divagações espíritas é a busca de solução para o mistério da dor. Inutilmente, porém, pois só o Cristianismo tem a solução adequada e realista para esse “mistério” da dor humana, que era chamado na antiguidade “a cruz dos filósofos”. Mas, segundo a doutrina revelada por Deus, os sofrimentos humanos nesta vida se explicam de duas maneiras que se completam: pelas limitações da própria condição humana neste mundo, e por sua vinculação ao tronco inicial, cujo chefe (Adão) prevaricou, e cujas conseqüências de carência espiritual e de propensão para o mal todos nós herdamos.
Deus enriquecera Adão com o dom gratuito da graça divina que o elevou ao plano sobrenatural na condição de filho pela graça da adoção divina. Perdendo essa graça por seu pecado, Adão perdeu-a para si e para os seus filhos e descendentes, para toda a humanidade. Mas a Redenção de Jesus nos restabeleceu na condição de filhos adotivos de Deus por uma nova comunicação da graça divina.
E mais: Jesus Cristo nos trouxe ainda o ideal de perfeição cristã, ou seja, o ideal de ser perfeitos como o Pai celeste (Mt. 5, 48) pela imitação do próprio Jesus que é a imagem perfeita do Pai (Col. 1, 15; 2 Cor. 4, 4; Rom. 8, 29); imitação que inclui a paciência nos sofrimentos a serem suportados por seu amor e em espírito de reparação. Assim, associamo-nos ao Ato Redentor de Cristo, que foi ato de reparação por nossos pecados. Por ele fazemos ainda o devido desagravo a Deus e obtemos misericórdia para o nosso perdão e salvação. A nossa salvação requer necessariamente tanto a graça da Redenção de Jesus Cristo, como a nossa cooperação. Tudo o contrário das invenções espíritas.”
(Dom Licínio Rangel, O Espiritismo É Anticristão)
http://tradicaocatolicaes.wordpress.com/2010/09/10/o-espiritismo-e-anticristao/
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