“Este livro é, como pretende, uma completa análise e refutação dos ensinamentos de Pierre Teilhard de Chardin. Escrita por um físico e matemático que também estudou profundamente filosofia e teologia, a obra faz pesar sobre os escritos de Teilhard o escrutínio exato de um cientista e a perspectiva abrangente de um crente instruído.
Smith leu quase todas as obras publicadas disponíveis de Teilhard. Ele faz citações delas com precisão e analisa seu conteúdo. Por exemplo, quando nos diz, logo no início, que “para Teilhard, a evolução não é apenas um fato: é o fato mais importante de todos,” ele faz citações de todos os lugares da obra de Teilhard para provar sua observação. No processo, os pensamentos de Teilhard tornam-se muito mais organizados por Smith do que jamais estiveram na própria mente de Teilhard e, à medida que seu conteúdo é apresentado e ponderado, vê-se claramente seu verdadeiro lugar tanto na realidade da estrutura de Smith como na fantasia de Teilhard. Quem quiser ter uma idéia concisa do que Chardin realmente disse e do que isso realmente significa deve ler a magistral análise de Smith sobre a visão de mundo de Teilhard.
O Dr. Smith é, entre outras coisas, um especialista em espaços geométricos. É interessante observar como ele lida, em termos matemáticos, com as concepções geométricas não-científicas da visão cósmica de Teilhard: de que o Céu não está “acima” nem “dentro”, mas à frente de nós no tempo; de que “é da natureza da Matéria, quando elevada corpuscularmente a um alto grau de complexidade, tornar-se centrada e interiorizada”; de que o “Ponto Ômega” é o termo definitivo da cosmogênese e coincide na realidade com Cristo; de que, no universo que evolui, Deus não é concebível (seja estrutural, seja dinamicamente) exceto na medida em que ele coincide com... o centro de convergência da cosmogênese,... um Deus que é funcional e totalmente “Ômega”; de que “criação, encarnação e redenção não são fatos que podem ser localizados (ênfase de Teilhard) em um dado ponto do tempo e do espaço”.
Quando Smith nos diz que “não há qualquer evidência” para a hipótese transformista de Teilhard na qual este acreditava tão piamente, ele está falando como um cientista e baseado nos dados mais atualizados da ciência. E ele nos mostra que o sonho transformista baseia-se inteiro na fé, como Chardin admitiu e como as recentes descobertas na biologia estão demonstrando com cada vez maior clareza.
O objetivo de Chardin era criar um novo Cristianismo. Visualizando o Céu como um desenvolvimento que não está nem acima, nem dentro de nós, mas apenas à frente de nós no tempo, Teilhard foi capaz de transpor e falsificar praticamente todas as idéias cristãs tradicionais, começando com a idéia de homem. Como cientista, Smith considera que Teilhard fala apenas por metáforas: “Retire as metáforas e não sobra nenhuma teoria. O que falta na doutrina de Teilhard são definições científicas, conceitos científicos”.
Dessa forma, para o pseudo-cientista Teilhard, as idéias de criação e desenvolvimento, separadas no pensamento escolástico, “são vistas constantemente se fundindo e se combinando uma com a outra” (Cristianismo e Evolução). Como cientista e matemático, Smith mostra que essa reflexão de Teilhard não é científica. “É possível conceber um único e onipresente Ponto? Ora, como qualquer matemático vai prontamente entender, isso é não apenas possível, como bastante fácil de fazer; precisa-se apenas (desculpem-nos pelo uso de jargão técnico) de uma ‘dimensão vertical’, ortogonal ao espaço-tempo, e uma função geométrica estendida que declina naquela direção vertical”.
Smith entende que a concepção teilhardiana de um universo gravitacionalmente convergente é cientificamente obsoleta; ela contradiz a lei da entropia. A idéia de Teilhard que põe Cristo no Ponto Ômega é um equívoco a respeito de vetores de velocidade. A concepção de Teilhard sobre história, baseada na sua não-científica “Lei da Complexidade”, “na verdade restringiu nosso campo de visão a dimensões de pequenez jamais alcançadas antes: a um único contínuo unidimensional, por assim dizer, coordenatizado por um axiomático “parâmetro de complexidade”.” A dificuldade está em que Teilhard apresenta, como matemática e científica, uma concepção não-matemática e não-científica de “complexidade”: “Em jargão matemático, não é uma variável que recebe valores em um conjunto ordenado”.
Desde o início, o celebrado Ponto Ômega de Teilhard “nada mais era que uma idéia semi-teológica, disfarçada em traje científico”. Teilhard admitia abertamente que estava pregando uma forma de panteísmo (ver, por exemplo, Cristianismo e Evolução), e Smith mostra que sua teoria realmente não passa disso. Teilhard insistia que Deus só pode ser definido como um “Centro dos centros” (Energia Humana) e Smith faz notar que “afinal de contas, um centro (seja de centros ou de qualquer outra coisa) só pode ser concebido em relação ao sistema do qual ele é o centro.”
É revelador ouvir do físico Wolfgang Smith o que há de errado com a idéia de Pierre Teilhard de Chardin sobre a matéria, e ouvir do matemático Wolfgang Smith o que está errado na concepção de Pierre Teilhard de Chardin sobre o Ponto Ômega e como Teilhard hábil mas falsamente mudou o eixo da contemplação espiritual do ‘acima’ para o ‘à frente’. Logo descobrimos que, para Teilhard, Deus, o “centro de convergência da cosmogênese”, não apenas metamoforseia o mundo, mas o mundo também, e na mesma medida, inevitavelmente “endomorfoseia” Deus. “Nesse momento, o Deus teilhardiano deixa de ser simplesmente o “evoluidor” e se torna, pelo menos em parte, um produto e resultado do processo evolutivo”. No fim das contas, para Teilhard, “é Cristo que é salvo pela Evolução” (O Cerne da Matéria). No fundo, a fé de Teilhard estava apenas neste mundo: “Se, como resultado de alguma revolução interior, eu perdesse seguidamente minha fé em Cristo, minha fé em um Deus pessoal e minha fé no espírito, sinto que continuaria a acreditar invencivelmente neste mundo. O mundo (seu valor, sua infalibilidade e sua divindade) – que, em última análise, é a primeira, a derradeira e a única coisa na qual eu acredito” (Cristianismo e Evolução).
A supostamente científica síntese evolucionária de Teilhard é reduzida a pó pela análise penetrante de Smith, mas o que mais vividamente se destaca é a tragédia pessoal do próprio Teilhard de Chardin. Esse sacerdote enganou-se a si mesmo ao pensar que a Evolução poderia substituir o Cristianismo. Aprendemos com o estudo de Smith que Chardin acreditava totalmente no mundo e em sua evolução como o único fato e a única realidade. Para Teilhard, Adão e Eva eram apenas “imagens não-históricas da humanidade em seu esforço em direção a Deus” e “a idéia da Queda não é mais do que uma tentativa de explicar o mal em um universo ordenado”. Ele tentou eliminar a realidade histórica do Pecado Original ao imaginá-lo como “uma sobrevivência de obsoletas visões estáticas” diante de “nosso modo evolucionário de pensar”. Em sua avaliação, o Pecado Original “poda as asas da esperança” e “arrasta-nos inexoravelmente de volta à avassaladora escuridão da reparação e da expiação” (Cristianismo e Evolução). Dizendo isso, Teilhard estava na verdade afastando a esperança nos méritos de Cristo e recusando a obra de reparação e expiação.
Dessa forma, com seu Ponto Ômega, Teilhard excluía a necessidade de esforço em direção a Deus e ao Paraíso. Ele rejeitava a idéia de Revelação e negava que a Encarnação e a Redenção fossem fatos históricos. Ele superficialmente excluía a realidade do mal e, no entanto, com uma inconsistência nada atípica, afirmava que mesmo as “potestades espirituais malignas” são “instrumentos vivos” de Cristo.
Os espíritos malignos são, é claro, ou o próprio Satanás ou os instrumentos vivos de Satanás, que tentam os homens com o fruto proibido do pecado. Teilhard não estava imune às trapaças deles. Ele dizia que o acesso à energia nuclear era “irresistível e inebriante” e a chave para as forças definitivas da vida: “Ao explodir o átomo nós demos a primeira mordida no fruto da grande descoberta, e isso bastou para que provássemos em nossas bocas um sabor que jamais poderemos esquecer” (O Futuro da Humanidade). Ele ainda vai falar outra vez da descoberta científica como “o gosto divino de seu fruto” (Energia Humana). Teilhard parece ter-se esquecido totalmente da força elevadora do amor de Deus; ele nos diz que o amor, “que entendo aqui no sentido estrito de ‘paixão’,... é, no entanto, reconhecido como o inspirador do gênio, das artes e de toda a poesia” (Energia Humana).
Teilhard deificou a evolução e transformou-a em um culto religioso onde não havia espaço para humildade ou liberdade de espírito. Até mesmo a espiritualidade dos santos era-lhe ofensiva: “Para os neo-humanistas que todos hoje somos, isso logo produz uma atmosfera que consideramos irrespirável, e que deve ser mudada” (Cristianismo e Evolução). Ele proclamou, ao invés, que “a religião da terra está sendo mobilizada contra a religião do céu” (Ciência e Cristo). Em carta a Léontine Zanta, escreveu: “Como você já sabe, o que domina meu interesse e minhas preocupações é o trabalho de estabelecer em mim mesmo e disseminar uma nova religião (você pode chamá-la de Cristianismo melhorado) na qual o Deus pessoal deixa de ser o grande proprietário neolítico dos tempos passados, a fim de se tornar a alma do mundo; nosso estágio religioso e cultural clama por isso” (Cartas a Léontine Zanta).
Talvez essa última citação tenha dito tudo sobre a vida de Pierre Teilhard de Chardin e o sistema de pensamento que ele propôs. O Dr. Smith descreve uma “experiência faustiana” pela qual Teilhard parece ter passado nos primeiros anos de seu sacerdócio e que ele apresentou em um ensaio chamado “A Força Espiritual da Matéria”. Nessa experiência, ele se encontra com um ser supra-humano, “equívoco, turbulento, a combinada essência de todo mal e todo bem”, que lhe diz: “Agora eu me estabeleci em você para a vida ou para a morte... Aquele que me vê jamais pode me esquecer: ele deve ou danar-se comigo ou salvar-me consigo.” Teilhard parece ter-nos dito que, infelizmente, ele abriu seu coração e seu destino a esse demônio (O Cerne da Matéria).
A tragédia de Teilhard se estende, também, ao vasto círculo de seus seguidores e admiradores dentro e fora da Igreja, que, nas palavras de Walter Kasper (O Cristo Jesus), sentiram que ele ofereceu em nosso século “uma versão particularmente inspirada” da abordagem do Logos à Cristologia. Mas quem ou o quê inspirou o trabalho de Teilhard de Chardin? Como Smith ressalta, Teilhard rejeitou completamente o Logos do Novo Testamento em favor do “Neo-Logos da filosofia moderna – o princípio evolutivo de um universo em movimento” (Cristianismo e Evolução). O cientista Teilhard tornou-se um descarado enganador, como se mostra claramente na farsa do Homem de Piltdown, que ele ajudou a cometer. O teólogo Teilhard abriu sua mente a uma atraente anti-teologia que apresentava (assim ele pensava) a chave para a vida, não no espírito Santo, “Senhor e Doador da Vida” (Credo Niceno), mas nos segredos da matéria e da energia nuclear. O artista Teilhard desenvolveu a poesia de seu cosmos imaginário ostensivamente sob a inspiração do amor erótico, como ele mesmo implicitamente declara ao dizer que a paixão é “inspiradora do gênio, das artes e de toda a poesia” (Energia Humana). Assim, o Espírito Santo não o inspirou, e seus seguidores deveriam considerar isso quando refletem sobre suas idéias.
Renomado perseguidor de uma ilusão erudita,
Ele abraçou este mundo pecador com paixão e confusão,
Trocou os fatos da fé por uma fantasia microscópica
E concebeu um sonambulismo cósmico que se tornou seu tema.
Tal seria um epitáfio apropriado para a vida e obra de Pierre Teilhard de Chardin, um escritor, (um sacerdote, um religioso), o fundador de uma nova religião.”
(Mons. John McCarthy, em resenha ao livro de Wolfgang Smith: Teilhardism and the New Religion)
Padre ¿por qué me has abandonado? (II)
Há um dia