“A disparidade no tratamento de muçulmanos e não-muçulmanos - e no valor dado à vida de cada um – perpassa o Corão inteiro e todas as tradições e leis islâmicas. Também deixou sua marca nas sociedades islâmicas; mesmo hoje em dia, embora a lei islâmica não seja inteiramente cumprida na maioria dos países muçulmanos, os não-muçulmanos não gozam de completa igualdade jurídica com os muçulmanos em quaisquer daqueles países – nem mesmo na laica Turquia.
Isso é lógico, pois no Corão não há nada parecido com a Regra de Ouro. Jesus enuncia uma ética universal quando diz no Novo Testamento: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós” (Mateus 7, 12). E o apologeta cristão do século XX, C. S. Lewis, mostrou em seu livro A Abolição do Homem que o mesmo princípio, chamado por ele de Lei da Beneficência Geral, prevaleceu entre pessoas de uma grande variedade de culturas e civilizações. Para ilustrar essa idéia em comum, ele cita material dos antigos babilônios, os Analectos de Confúcio, os escritores romanos, as Escrituras Hebraicas e outras fontes – mas nada do Corão, do Hadith, ou qualquer outro texto islâmico.
Poder-se-ia imaginar que foi uma omissão involuntária ou nascida da ignorância. Afinal de contas, Lewis poderia ter citado as passagens corânicas que mandam os muçulmanos “retribuir o mal com o bem” ou “retribuir o mal da melhor forma possível” (13, 22; 23, 96; 28, 54; 41, 34). Ele poderia ter percebido a passagem que aconselha perdoar o mal: “o delito será expiado com o talião; mas, quanto àquele que indultar (possíveis ofensas dos inimigos) e se emendar, saiba que a sua recompensa pertencerá a Deus, porque Ele não estima os agressores” (42, 40). Poderia até mesmo ter citado a passagem que aconselha os muçulmanos a “tratarem com benevolência” o “vizinho próximo, o vizinho estranho, o companheiro, o viajante e os vossos servos” (4, 36).
Isso não é o mesmo que o “amar teu próximo como a ti mesmo” judaico-cristão?
A resposta depende de como um muçulmano responderia ao doutor da lei que perguntou a Jesus, provocando do Cristo a parábola do Bom Samaritano: “Quem é o meu próximo?” (Lucas 10, 29). O Corão diz que “Maomé é o mensageiro de Alá” e que “aqueles que estão com ele são severos para com os incrédulos, porém compassivos entre si” (48, 29). Isso sugere que os não-muçulmanos não são considerados dignos de caridade e bondade. E realmente o leitor do Corão vai procurar em vão por até mesmo um único verso que especificamente diga aos muçulmanos que sejam gentis com os infiéis ou façam amizade com eles, a menos que seja “para vos precaverdes e vos resguardardes” (3, 28) – um verso que, como vimos, os teólogos islâmicos explicam como sendo uma ordem de falsa solicitude para com os infiéis visando à proteção de si mesmo e/ou à proteção do Islã.
No Corão também falta qualquer advertência de que todos os seres humanos são iguais em dignidade diante de Deus, ou a correspondente convicção de que todas as pessoas devem ter igualdade diante da lei. E a ausência desses princípios faz-se sentir em todas as culturas e sociedades islâmicas.”
(Robert Spencer, The Complete Infidel’s Guide to the Koran)
Padre ¿por qué me has abandonado? (II)
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