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sábado, 18 de janeiro de 2020

A santidade da Igreja


"Diante do aumento da delinqüência entre os jovens, os juízes tendem a condenar os pais, é razoável? Muitas vezes sim, mas o razoável é julgar sempre em cada caso quem e em que medida é culpado.
Há a responsabilidade dos pais, mas também a do jovem, a da escola, a da rua; se pais e escola fizeram o possível e o jovem se corrompe pelo que encontra na rua, a culpa poderia ser do presidente.
Mas tampouco se pode acusar rápido, pois também se deve julgar – de cima abaixo – quem cumpriu mal sua função, se o presidente ou o governador, o intendente, a polícia, ou simplesmente o vizinho desonesto. E se a culpa é do presidente, é culpada a pátria? Pode ser que sim, pode ser que não; não o seria se o governante agiu contra as leis e costumes e o consentimento geral.
Suponhamos o caso em que a culpa foi do jovem, mas houve negligência do governador. Quem pode, então, pedir perdão? Evidentemente, perdoam-se os culpados e não os que não o são; e podem aqueles pedir perdão sob duas condições: mostrar sincero arrependimento e oferecer a devida reparação, pois são metafisicamente incapazes de perdão as más vontades.
Mas também podem pedir perdão – embora de modo e razão muito diferente – os ofendidos: os pais ou o presidente; e o fazem com mais argumento, porque muito merece ser ouvido pela pátria e por Deus o pedido de perdão daqueles que têm sabido perdoar a seus devedores.
Mas aqui é outra a condição: que sejam completamente inocentes, pois bem podem pedir perdão os meritórios pais que fizeram tudo que puderam para dar bons filhos à pátria, mas não cabe que peça perdão por outros o governador negligente quando tem sua parte que expiar.
Se tanto nos valeu a voz que da Cruz exclamou: "Pai, perdoai-os porque não sabem o que fazem", foi porque era voz de "um Pontífice como convinha, santo, inocente, imaculado, afastado dos pecadores" (Hebreus 7, 26).
Pode a Igreja pedir perdão pelos pecados de seus filhos? Assim o faz todo dia desde dois mil anos, mas não como ofensora e sim como ofendida, não como dolosa e sim como doída, não como culpada e sim como inocente e santa Mãe. A Igreja é santa e nunca se pode, em rigor de justiça, atribuir-lhe culpa nos pecados de seus filhos. "A Igreja verdadeira é SANTA – diz o catecismo de São Pio X – porque santa é sua cabeça invisível, que é Jesus Cristo, santos muitos de seus membros, santa sua Fé, sua Lei, seus Sacramentos e, fora dela, não há nem pode haver verdadeira santidade."
Nunca pôde ninguém acusar a Cristo do menor pecado; dois mil anos de história têm mostrado a santidade de sua doutrina e das leis em que fundou sua Igreja; multidões de santos manifestam que os impulsos de graça que comunicam os Sacramentos levam à mais perfeita vida. Se um rei cristão ou um Papa cometeu pecados, salta aos olhos de um juiz honrado que o fez contra os mandamentos, exemplos e influências da santa Instituição a que pertencem. E nunca se poderá acusar a sua Cabeça de negligência no governo, pois para cada enfermidade de heresias ou pecados que haja podido invadir a Igreja, Nosso Senhor tem sabido despertar os anticorpos necessários.
Pretender que a Igreja peça perdão ao mundo assumindo a culpa de seus filhos é cometer a mais aberrante das injustiças; é desconhecer a santidade da Igreja e blasfemar contra a santidade de Deus, que na pessoa do Verbo é sua cabeça e no Espírito Santo seu coração.
Daí que o ato pelo qual o Papa anterior, em suposto nome da Igreja, pediu público perdão como de próprias culpas, resta como o maior ultraje jamais recebido por nossa Santa Mãe, que clama ao Céu por reparação. Moveu-o o ressentimento dos filhos liberais, castigados mil vezes por sua boa Mãe? Ou talvez a intenção de evitar que a Igreja seja crucificada, preferindo então – como Pilatos – oferecê-la ao mundo humilhada por uma autoflagelação: Ecce Mulier.
Mas também há a grosseira materialidade do pensamento moderno que, intoxicada de nominalismo, vomita as distinções e formalidades dos escolásticos; e atribui ou nega, segundo convenha, o da parte ao todo e o do todo à parte.
Se a parte peca, o todo deve assumir; e assim temos a Igreja ou a sociedade culpada de tudo que fizeram seus membros criminosos; mas não há que assustar-se tanto de assumir estas responsabilidades, porque agora se pode pedir perdão sem arrependimento nem reparação.
Não deixa de ser lógico, porque se de tudo são culpados todos, no final a culpa não é de ninguém ou... se bem se pensa... a culpa é de Deus."
(Pe. Álvaro Calderón, F.S.S.P.X, La Santidad de La Iglesia)

quinta-feira, 11 de abril de 2019

O verdadeiro fundamento

"A posição suprema que teve São Pedro na Igreja militante, em razão da qual é chamado fundamento da Igreja, como chefe e governador, não vai além da autoridade do seu Mestre, antes, lhe é apenas uma participação; de modo que São Pedro não é fundamento da hierarquia fora de Nosso Senhor, mas em Nosso Senhor, tanto que nós o chamamos Santo Padre em Nosso Senhor, fora do qual não seria nada. […] Fundamento é então, Nosso Senhor, e assim também São Pedro, mas com uma notável diferença, que, a comparar com um, se pode também afirmar que o outro não o é. Verdadeiramente, Nosso Senhor é fundamento e fundador, fundamento sem outro fundamento, fundamento da Igreja Natural, Mosaica e Evangélica, fundamento perpétuo e imortal, fundamento da militante e daquela triunfante, fundamento de si mesmo, fundamento da nossa fé, esperança e caridade e do valor dos Sacramentos. São Pedro é fundamento, mas não fundador de toda a Igreja, fundamento, mas fundado sobre um outro fundamento que é Nosso Senhor, fundamento apenas da Igreja Evangélica, fundamento sujeito a sucessão, fundamento da Igreja militante, mas não daquela triunfante, fundamento por participação, fundamento ministerial, não absoluto; enfim, administrador e não senhor e por nada fundamento da nossa fé, esperança e caridade, nem do valor dos Sacramentos."
(São Francisco de Sales, Controvérsias)