Zbigniew Herbert: Jonas
Jonas filho de Amithai
fugindo de uma missão perigosa
embarcou numa nau que navegava
de Joppen a Tharsis
depois se deram as coisas sabidas
um grande vento uma tempestade
a tripulação joga Jonas nas profundezas
e o mar se aquieta de seu furor
vem nadando o peixe previsto
três dias e três noites
Jonas ora nas entranhas do peixe
que por fim o vomita
na terra seca
o Jonas contemporâneo
afunda como uma pedra na água
se topa com uma baleia
não tem tempo nem de suspirar
salvo
procede mais astutamente
que o seu colega bíblico
pela segunda vez não aceita
a missão perigosa
deixa a barba crescer
e longe do mar
longe de Nínive
sob um nome falso
é comerciante de gado e antiguidades
os agentes do Leviatã
se deixam subornar
não têm o sentido do destino
são funcionários do acaso
num hospital asseado
morre Jonas de câncer
ele mesmo sem saber bem
quem era na verdade
a parábola
aplicada na sua cabeça
se extingue
e o bálsamo da alegoria
não afeta o seu corpo
Tradução de Piotr Kilanowski