quinta-feira, 25 de junho de 2020

Sobre a morte dos jovens


“O que fazer quando a morte bate à porta de pessoas queridas? O que dizer então para os pais quando perdem filhos jovens e em plena efervescência da vida? Na dor, todos estão sós. Cada um sofre na sua forma pessoal, não há como comparar dores. Você pode ser mais forte ou contido, mas isso não quer dizer de sua dor, mas da forma como a expressa ou não. Você pode chorar rios de lágrimas, maldizer o Senhor e duvidar de sua fé, mas esse é o seu jeito. Talvez seja até o caminho da possível cura ou da conformação. A morte é uma trilha desconhecida pela qual todos passarão. Ela vem silenciosa, pungente e não poupa ninguém. Tem seus próprios tempos e modos. Escolhe e ceifa, não há como entender esse mistério. Se escolhe, elege. Se elege, deve ter alguma razão insondável. Mas vá dizer isso para pais inconsoláveis que, abruptamente, recebem a notícia da morte de seus filhos. Creio que devo invocar o filósofo Sócrates: “Pois bem, é hora de ir; eu para morrer, e vós para viver. Quem de nós irá para o melhor é obscuro, menos a Deus”. O que virá depois da morte? Como somos pecadores e não temos onisciência é que nos afligimos pelos que morrem, especialmente se jovens. O poeta russo Maiakovski achava que “não é difícil morrer nessa vida, viver é muito mais difícil”. Já se disse que os jovens que morrem são mais estimados pelo Céu e por tal razão seguem antes. Xenofonte, filósofo e historiador grego, ao receber a notícia da morte de seu filho, falou: “Eu sabia que meu filho era mortal”. Todos sabemos disso, mas como entender a ordem que ela escolhe? Svevo, escritor italiano do século passado, afirmava que “os mortos nunca foram pecadores”. Faz sentido. Os vivos são os pecadores. Se a morte é o encontro da paz, pensemos como Heine, poeta alemão, que dizia que a função de Deus é perdoar os mortos. A vida, penso eu, não tem grandes respostas, vive de perguntas. Essas perguntas, por exemplo, nos levam a admitir que a morte não faz sentido para os vivos. Por outro lado, será que a vida tem significação para os que deixaram de existir? Assim, em meio ao que escrevi ou transcrevi é que do meu jeito, meio sem jeito, me solidarizo com os que não encontram respostas prontas para as mortes de seus jovens filhos.”

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