"O progressismo Matrix converteu-se numa espécie de fé messiânica: instaurou uma nova ordem, impôs paradigmas culturais inatacáveis, estabeleceu uma nova antropologia que, prometendo ao homem a libertação final, lhe reserva apenas o suicídio futuro. E a única ordem capaz de se erguer contra esta nova ordem quase religiosa é a ordem religiosa, que restitui ao homem a sua verdadeira natureza e lhe propõe uma visão cabal do mundo, que ataca os fundamentos da ilusão na qual assenta a nova tirania, dissolvendo as falsificações. Trata-se de uma visão que a nova tirania combate denodadamente; com efeito, essa ordem religiosa é a única fortaleza que ainda lhe falta derrubar, para que o seu triunfo seja completo. O laicismo dominante acusa a Igreja de se imiscuir na política, aduzindo aquela sentença evangélica que costuma ser arvorada por pessoas que nunca leram o Evangelho: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus." Mas, afinal, quais são as coisas que são de César? São as coisas temporais, as realidades terrenas; mas não são os princípios de ordem moral que resultam da natureza humana, nem os fundamentos éticos da ordem temporal. A nova tirania, que tão zelosa se mostra de expandir as "liberdades" dos seus súditos, não hesita em recusar à Igreja a liberdade de ajuizar a da moralidade da sua atuação temporal, ciente que está que tal juízo contém uma radical subversão da ilusão sobre a qual assenta a nova tirania. Anseia por uma Igreja farisaica e corrompida, que renuncie a restituir ao homem a sua verdadeira natureza e que acate esse "mistério da iniquidade" que é a adoração do homem; anseia por uma Igreja que se ajoelhe diante de César, convertida na "grande rameira que fornica com os reis da terra" de que nos fala o Apocalipse."
(Juan Manuel de Prada,
A Nova Tirania - O Senso Comum contra o Progressismo Matrix)