“De modo estranho, o amplamente divulgado incidente do Papa dando um tapa numa mulher chinesa em seu caminho pela Praça de São Pedro em 31 de dezembro de 2019 tem relação com a mais não-noticiada história do ano.
A história é a grande traição da Igreja Subterrânea da China pelo Vaticano e o retorno da perseguição das autoridades comunistas aos padres e leigos fiéis católicos, ou seja, aos que se recusam a fazer parte da Associação Patriótica Católica (APC), controlada pelo Estado, que na prática governa a “Igreja Católica oficial” na China.
O “acordo” Roma-Pequim, aprovado por Francisco no ano passado, cedeu o direito da Igreja de nomear bispos e formalmente reconheceu a APC como a única representante da Igreja Católica na China. Por causa deste acordo, a Igreja Subterrânea está sofrendo novas perseguições e pressões para se fundir com a APC. E desta vez, as autoridades chinesas afirmam objetivamente que estão agindo com a aprovação do Vaticano.
Agora, voltemos à história do tapa. O que a imprensa de língua inglesa está divulgando deixa de fora um detalhe importante. Eles estão descrevendo a mulher que segura a mão do Papa como “asiática”, “uma fã agitada”, “uma devota” etc.
A impressão que passam para nós é que esta enfática admiradora agarrou, puxou a mão de nosso enfraquecido Papa, e rudemente insistiu em segurá-la para poder dizer-lhe algumas palavras de elogio ou pedidos pessoais. A imprensa está noticiando que suas palavras eram indiscerníveis.
As reações a este incidente têm caído em um destes dois campos:
- O Papa foi rude em dar um tapa na mão da mulher duas vezes e afastar-se mostrando óbvia raiva e irritação. Em suma, o pastor perdeu a compostura e agrediu uma de suas ovelhas e então foi pronunciar um discurso de Ano Novo em que condenou todo tipo de violência física contra mulheres. O malvado Francisco. Contraditório, mal-humorado, temperamental.
- O pobre Papa foi a vítima. A “asiática” apertou sua mão com tanta força que ele sentiu uma dor excruciante e reagiu naturalmente, perdendo a compostura. A mulher passou dos limites. Uma apologia “sincera” veio depois e tudo deveria ser perdoado e esquecido. O bom Francisco. Espontâneo, improvisador, comportando-se igual a qualquer um de nós.
De qualquer maneira, o veredito geral de ambos os lados é que este episódio foi exageradamente divulgado e deveria ser posto de lado.
Contudo, detalhes significantes foram deixados de fora deste contratempo. A mulher era chinesa, provavelmente da China continental e obviamente com pouco conhecimento de inglês, dadas as palavras com que se dirigiu ao Papa. Ela não era nenhuma fã fanática, tal como as dos Beatles, que estava tentando tocar o Papa.
Qualquer um que assista ao vídeo pode ver que ela estava muito séria e comportada, fazendo o sinal da cruz antes do Papa chegar até ela na fila, orando para que suas palavras pudessem ser ouvidas pelo Vigário de Cristo e Pastor do Rebanho nesta época de Natal.
Quando o Papa começou a se aproximar dela, ela buscou alcançá-lo para entregar sua mensagem, um apelo não apenas de uma mulher, mas uma mensagem dos corações de muitos fiéis católicos na China que estão sofrendo a nova e dura perseguição do regime comunista. Suas palavras, relatadas por fontes estrangeiras que – ao contrário da imprensa de língua inglesa – foram capazes de discerni-las, foram estas: “Segure! Segure! Procure a aldeia chinesa! Eles estão perdendo a fé!”
Traduzida para um melhor vernáculo, sua mensagem para Francisco foi: “Espere! Espere! Tome conta do povo chinês! Eles estão perdendo a fé!”
Apesar de seu péssimo inglês, Francisco recebeu a mensagem. Foi isso que o irritou, creio eu, e o tornou indignado. Ele não queria ouvir falar da triste condição dos católicos chineses ou responder a um pedido veemente por proteção pastoral.
Afinal de contas, é ele quem está instruindo a Igreja Subterrânea a se desfazer e se juntar à APC controlada pelo governo, a se submeter ao Estado comunista, a esquecer o meio século de lutas da perseguida Igreja Católica para manter a verdadeira Fé.
É ele quem está ignorando o fato de que a primeira ação do governo chinês após a assinatura do acordo com Roma foi exigir que todos os bispos oficialmente reafirmassem sua lealdade ao Partido Comunista. Então uma perseguição imediata começou contra qualquer um dos bispos e leigos subterrâneos que se recusassem a se juntar à APC.
Por esta razão, como esta corajosa senhora corretamente observou, “as pessoas estão perdendo a Fé”.
Esta é a verdadeira história que está sendo ignorada pela imprensa, tanto a conservadora quanto a progressista. Ambas têm consistentemente ignorado a traição oficial do Vaticano à Igreja Subterrânea Chinesa que começou com João Paulo II e cresceu enormemente sob Bento XVI, que preparou o terreno para o atual acordo com sua Carta aos Católicos Chineses de 2007.
Os dois tapas do Papa na mão da senhora chinesa são simbólicos do forte tabefe que o Pontífice deu na cara da autêntica Igreja Católica da China quando ele efetivamente a entregou às autoridades comunistas. Esta é a verdadeira história que deveria estar nas manchetes. Se estivesse, a missão da valente senhora chinesa teria tido algum sucesso.
Tenho diante de mim notícias da crescente perseguição de católicos na China dos últimos meses. Eu as resumirei em meu próximo artigo com a finalidade de ajudar esta pobre senhora e os católicos chineses que ela representa a terem sua difícil situação revelada a um Ocidente tristemente indiferente.”
Original em https://www.traditioninaction.org