quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Breaking News manuscritas em Patmos

"Enquanto a apostasia tem conseguido estabelecer-se na Igreja segundo um duplo parâmetro – em expansão e em intensidade -, as figuras afetadas por sua vis deletéria parecem correr a assumir os papéis que a Revelação lhes designou para os últimos tempos. O que não deve estranhar: se os príncipes da Igreja perdem massivamente a fé, as profecias os terão desprevenidos e não repararão no papel que puderam desempenhar no cenário escatológico cujas dramatis personae nos têm sido clamorosamente esboçadas há vinte séculos. Ocorre que o vórtice tem as propriedades do ímã e que, como o soube Ésquilo, "quando o homem corre desatento a seu destino, até o céu se lhe junta e o ajuda a despenhar-se". Os demônios, de fato, que não o céu, colaboradores eficazes daqueles que se têm rendido a seu horrendo influxo, hão de passear à vontade em dicastérios e congregações romanas como para que estes sejam assimilados sem delongas a outros tantos lupanares – e, ainda por cima, daqueles que só admitem varões na qualidade de alunos.
A apostasia cega seus atores, que "correm desatentos a sua ruína". Se os virgens que celebra o Apocalipse (14, 4ss.) são, segundo a mais recorrente exegese, aqueles que não menoscabaram a doutrina nem num til, nem numa vírgula porque "em sua boca não se encontrou mentira", a Grande Prostituta, acima de tudo, deve ser aquela que, depois de faltar à fidelidade ao depósito que lhe foi confiado, havendo fornicado com o reis da terra (Ap. 18, 3), termina seus infortúnios na degeneração de seus hábitos primários, tal como corresponde a sua podridão cordial. Que a prostituição, termo sempre alusivo ao comércio sexual, possa também aplicar-se à contaminação do magistério, revela em todo caso a afinidade profunda entre ambos registros e quanto um possa reclamar a solidariedade do outro. A pederastia – observação válida para qualquer ambiente no qual esta medre – vem indicar a exacerbação da conduta viciosa, o nec plus ultra da depravação, que é um fato antes de tudo espiritual.
As redes homossexuais que infestam a Igreja convêm, pois, à descrição da Grande Prostituta, como também convém a esta a contemporização do clero com as nauseabundas máximas da ONU e outros conventículos de notório credo antropolátrico. Ou com esse melífluo interconfessionalismo que porá logo nos altares Lutero e Melanchton, se Deus não quiser impedi-lo. Quando São João disse haver "ficado estupefato" (Ap. 17, 6) ao ver a Mulher "cujo nome é um mistério" (nome que revela imediatamente como o de "Babilônia a Grande"), ébria do sangue dos santos e dos mártires, a que atribuir sua estupefação, nunca assinalada a propósito das outras terríveis visões que desfilam diante de seus olhos? Será talvez ao haver reconhecido nesta má fêmea a Sé de Pedro usurpada por demônios? (importa recordar aqui que o Príncipe dos apóstolos conclui sua primeira epístola saudando "de Babilônia", em alusão a Roma). Santo Agostinho aponta outro tanto em sua De civitate Dei quando comenta aquela passagem da 2ª aos Tessalonicenses (2, 3ss.) onde se fala do "homem iníquo, o filho da perdição, aquele que se opõe e se subleva contra tudo aquilo que se refira a Deus e seja objeto de culto, até chegar a sentar-se no templo de Deus", arguindo que alguns "pensam que também em latim é mais correto dizer, como em grego, não no templo de Deus (in templo Dei) mas se senta na qualidade de templo de Deus (in templum Dei sedeat), como se ele fosse o templo de Deus que é a Igreja." O que sugere a confusão, aos olhos do vulgo, da Igreja com seu símio, com uma contra-igreja capaz de conservar as temporalidades daquela e sua organização hierárquica sem seu espírito.
Francisco, em seu vômito diário de insensatezes e heresias, é o vulgarizador mais reconhecido deste estado de espírito cuja rejeição tem por objeto o logos e o Logos, ávido de consagrar o princípio de indeterminação de todas as coisas, o caos primordial. Correndo a apropriar-se das qualidades das duas Bestas, imita a do mar naquilo de proferir "palavras arrogantes e blasfêmias", blasfemando "contra Deus, seu nome e sua Morada e os que habitam no céu" (Ap. 13, 5ss): assim o fez, v.g., quando em um de seus mais insuperáveis ápices verbais permitiu-se sugerir uma suposta discórdia no seio mesmo da Santíssima Trindade. Não falemos do muito que se lhe apropriam os atributos da outra Besta, a terrestre, que "tinha dois chifres, como os de um cordeiro, mas falava como um dragão" (Ap. 13, 11), com esse bilingüismo que é a arte dos vigaristas consumados. Que esta segunda Besta, desde sempre caracterizada como um poder religioso, faça "que a terra e seus habitantes adorem a primeira Besta" (poder civil) comportaria a voluntária submissão da espada espiritual à temporal: toda uma refutação pós-moderna da Unam Sanctam de Bonifácio VIII e dos Dictatus papae de Gregório VII em apoio àquele outro horríssono e já recorrente apelo ao laicismo do Estado, com o subsequente passo de pôr a Igreja sob o domínio do Princeps. O recente acordo com a China não exala outro fedor: bastará acaso que a grande potência do Oriente termine de impor-se no contexto internacional ao fim da alardeada guerra comercial com os EUA, ou que se tome exemplo desta submissão para repeti-la em relação a um hipotético Superestado mundial ainda não conformado, para que vejamos realizado este pesadelo diante de nossos horrorizados olhos.
O ataque concatenado dos meios de comunicação em massa à Igreja em relação aos abusos sexuais dos clérigos, à parte ilustrar que "o mundo não paga traidores" e que os melindres com que tanto prelado o presenteia não lhe garantem a imunidade desejada, parece poder aplicar-se àquela passagem que diz que "os dez chifres [reis] que viste na besta são os que odiarão a prostituta, e a colocarão desolada e nua, e comerão a sua carne, e a queimarão no fogo" (Ap. 17, 16). A aliança do clero modernista com o mundo e suas máximas poderá outorgar àquele inicialmente um pouco de oxigênio nesta encruzilhada bissecular, mas a vitória do mundo sobre a Igreja reclama para si algo mais que a adulteração da doutrina e da missão da Esposa de Cristo, e é o cancelamento de toda recordação de sua passagem pela terra. Quando os poderes deste século tenham abatido a cruz dos campanários, quererão a seguir abater os mesmos campanários até suas fundações: tal é a natureza refratária do mundo à graça. A crescente retirada do favor dos meios jornalísticos a Francisco (dos mesmos meios que saudaram com abundante saliva sua eleição e perfídia), caracterizando-o agora inequivocadamente como encobridor de clérigos outrora denunciados, não faz mais que ilustrar isto mesmo. Faz mais de um ano que a corrente de fastio vem se espalhando entre esses mesmos pasquins esquerdosos que aplaudiam como focas o Papa progressista: "dizer que um papa, que prometeu aos quatro ventos uma limpeza e reformas concretas ao grito da "tolerância zero" contra os pedófilos e seus encobridores, mas que conscientemente se cerca desses personagens (para dizer o mínimo), é vítima de uma improvável conspiração é um insulto à inteligência humana".
Não queremos ser sonhadores nem iludidos ao identificar monsenhor Viganò como uma das duas Testemunhas, mas não deixa de ser significativo que estas sejam imoladas "na praça da grande cidade, que simbolicamente se chama Sodoma e Egito" (Ap. 11, 8). Que o ex-núncio nos EUA tenha centrado sua denúncia na hedionda trama sodomita da Igreja o faz uma vítima potencial dos serviços secretos vaticanos: ele o sabe e optou judiciosamente por se esconder. O encontro de seu paradeiro poderia acabar com seu cadáver na praça de São Pedro, fuzilado não pelos padres bolcheviques da visão de Bernanos, mas pelos clérigos sodomitas que Bergoglio esconde sob sua desfiada sotaina.
Que o denunciante destes horrores seja um prelado de origem conciliar, como o são hoje todos sem exceção, não deve fazer supor sua incompetência para encarnar um papel como o que lhe vislumbramos: sem dúvida, o vespeiro desta Igreja usurpada e desfigurada ferverá muito mais quando for um de seu próprio grupo quem lhe impinja as necessárias verdades, que quando o faça um clérigo em "situação canônica irregular". Falta só outro bispo que, depostos os respeitos humanos em sonolento vigor, peça a pira pública para os documentos do Vaticano II e se anime a recordar a correlação de causa e efeito entre o desfalecimento doutrinal e a desvirilização do clero. O álbum de figurinhas do Apocalipse estaria então completo, e poderíamos por fim levantar nossas abatidas cabeças."

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