segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Gustave Thibon e o sentido da história

“A virtude cristã da esperança não tem relação com o mito do progresso. Quando Mistral nos exorta “à fé num ano novo”, esta confiança no futuro, fundada na comunhão com as origens do ser, nada tem de comum com o “sentido da história” dos progressistas modernos. Não é a transposição no futuro das promessas da eternidade, é a fé na eternidade que se projeta sobre o futuro.
Eu creio também no ano novo. O que distingue a minha esperança da dos adoradores da história, é que eles crêem na virtude intrínseca e necessária da transformação, num futuro certamente melhor que o passado – e isto por efeito do poder criador de tudo o que perdura, ou, se são crentes, num plano divino da história, pelo que a vida terrestre ir-se-á aproximando cada vez mais da vida celeste. Eu, porém, não creio nem no passado nem no futuro como tais; acredito somente na eternidade que nos cinge e pode penetrar todas as horas do tempo, se soubermos acolhê-la. Porque Deus, que está presente em todos os pontos do espaço, está igualmente presente a todos os minutos da duração. Crer no futuro é crer que o amanhã está já contido no seu hoje eterno. Mas isto nada tem que ver com a fé num desenvolvimento contínuo da virtude e da felicidade sobre a terra. Eu não penso que o que vier a acontecer amanhã valerá necessariamente mais do que as eventualidades de hoje; penso, o que é diferente, que Deus não abandonará nunca aqueles que n'Ele crêem – suceda o que suceder.
É possível que o futuro nos reserve terríveis repressões, mas essas catástrofes temporais não fecharão as portas da eternidade (quem sabe, mesmo, se não ajudarão a abri-las?). O que importa não é que as coisas vão melhor ou pior no tempo, é o vinco que deixa no fundo eterno da alma este melhor ou pior: quid hoc ad aeternitatem?
A história tem, na verdade, um sentido, pois Deus não permite que o universo dure em vão; ora este sentido situa-se fora da história, isto é, não na seqüência dos acontecimentos temporais, mas no seu reflexo, no fundo do espelho móvel da eternidade. O tempo é como um caminho à beira do abismo da morte; após algumas horas de marcha, as gerações caem sucessivamente neste abismo. O que conta e dá à história o seu verdadeiro sentido não é o fato de o caminho ser mais sombreado ou árido, mais direto ou acidentado, mas o que o abismo divino acolhe ou rejeita das colheitas da morte.”

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