“A intransigência, o fanatismo, a intolerância são símbolos de fé, são as alavancas mais poderosas da Ação. Os transigentes, os tolerantes, os indiferentes são lesmas e cobardes, destinados ao desprezo ou às piores violências dos adversários fanáticos, intolerantes e intransigentes.
Intransigência, intolerância e fanatismo são termos pejorativos dum sentimento sagrado que se chama – a fé.
Há o fanatismo, a intolerância, a intransigência da Virtude e da Verdade, como há o fanatismo, a intolerância, a intransigência do Crime e da Mentira.
Só é fanático, intolerante e intransigente quem está convencido que é portador de verdade. A tolerância, a transigência, a indiferença são estados próprios de quem duvida, hesita e não se sente muito seguro da posição que ocupa.
Na luta entre o Bem e o Mal, entre a Santidade e o Pecado, entre Deus e Satã, não pode haver tolerância, transigência e indiferença, porque a sua presença só traz prejuízos para o Bem, para a Santidade e para Deus e vantagens para o Mal, o Pecado e Satã.
Porque foi fanática, intolerante, intransigente a Revolução conquistou o Mundo depois de ter mergulhado a França em Atlânticos de sangue. Porque é fanático, intolerante, intransigente o Comunismo está aí a governar o Mundo...
Porque foram fanáticas, intolerantes, intransigentes as Democracias ganharam a guerra. Porque não foi suficientemente fanático, intransigente e intolerante o Eixo, poupando a França, poupando os países ocupados – perdeu a guerra. Porque se não têm revelado fanáticas, intransigentes e intolerantes as Democracias ocidentais estão a ser vencidas pela Democracia oriental russa.
O Fanatismo, a intolerância e a intransigência postas ao serviço da Verdade, da Virtude, do Bem e da Honra levam ao Heroísmo; postas ao serviço da Mentira, do Pecado, do Mal e da Cobardia levam ao Crime. Jeanne d'Arc e Robespierre; D. Sebastião e Marat; S. João de Brito e Estaline; Silva Porto e Buiça...
Têm-me acusado muitas vezes de fanático, intolerante e intransigente. Sou-o quanto pode sê-lo quem vive num século desvirilizado, essencialmente burguês, materialista e cético, e percorreu as sete partidas do mundo da cultura à procura da verdade nova, para só encontrar verdades falsas, à busca desinteressada do Sol e só encontrou crepúsculos frios. Quando voltei, desiludido, à minha tenda levantada no meio do tumulto, verifiquei que a única solução acessível às minhas inquietações e angústias era a tradição. E regressei à secular tradição portuguesa – a Deus, à Pátria e ao Rei.
E sou fanático, intransigente e intolerante em defesa de Deus, da Pátria e do Rei, até mesmo contra os que falam em Deus desservindo-o, ou falam na Pátria traindo-a, ou falam no Rei deformando-o.”
(Alfredo Pimenta,
jornal “A Nação”, 24 de Janeiro de 1948)
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