sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O lado escuro do pontificado de Urbano VIII

“O lado mais escuro do pontificado de Urbano VIII é sua intervenção no desenvolvimento da guerra dos trinta anos, que justifica a afirmação de que pelo menos indiretamente favoreceu o protestantismo, e, graças a esse favor, foi possível a derrota definitiva das armas católicas e o resultado catastrófico da Paz de Vestefália. Com efeito, Urbano VIII era contrário à política da Espanha e dos Habsburgos e, pelo contrário, simpatizava com Richelieu e a política da França. Por isso não via com bons olhos o triunfo dos Habsburgos, que significava o da causa católica frente aos protestantes, por supor que desse modo se quebrava o equilíbrio das potências católicas na Europa. Assim se explica o fato de que em 1629 se opusera ao Édito de Restituição, publicado por Fernando II em um momento de triunfo das armas católicas, coisa que favorecia notavelmente o catolicismo.
Essa política de Urbano VIII o levou por fim ao extremo de que quando, na última etapa da guerra dos trinta anos, a França se pôs com todo seu poder ao lado dos protestantes, ainda então continuou favorecendo-os, pelo menos indiretamente, e opondo-se aos Habsburgos. Certamente, o cardeal Richelieu, dirigente da política francesa, explicava sua conduta dizendo que aquela guerra já não tinha caráter religioso, mas puramente político; e Urbano VIII igualmente repetia que só buscava a paz entre os príncipes cristãos, portanto queria observar entre eles a maior neutralidade; mas de fato, graças ao apoio que recebeu de Richelieu o partido protestante e ao favor que significava para Richelieu essa ‘neutralidade’ de Urbano VIII, os católicos foram vencidos em definitivo pelos protestantes.
Outros assuntos importantes lançam também tristes sombras nos últimos anos do pontificado de Urbano VIII; por um lado, o tristemente célebre do processo de Galileu, do qual se fala em outra parte, que, embora sem intervenção direta do papa, prejudicou indubitavelmente a sua memória; por outro, o da guerra de Castro, no qual se manifestou o excessivo favor e afeto de Urbano VIII por sua família, os Barberini.”
(B. Llorca S.I, R. García Villoslada S.I. e F.J. Montalbán S.I., Historia de la Iglesia Católica)