segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O servilismo confortável das massas

“A verdade que Dostoievski põe na boca do Grande inquisidor é que a humanidade nunca procurou a liberdade, nem nunca o fará. As religiões seculares dos tempos modernos dizem-nos que os seres humanos anseiam por ser livres; e é verdade que qualquer tipo de restrições os impacienta. No entanto, é raro que os indivíduos estimem a sua liberdade acima do conforto que o servilismo compra, e mais raro ainda que o faça um povo inteiro. À proposição de Rousseau, segundo a qual os homens nasciam livres, embora estivessem por toda a parte acorrentados, Joseph de Maistre opunha que pensar, pelo fato de umas quantas pessoas de vez em quando procurarem a liberdade, que todos os seres humanos a desejavam, era como pensar que, por existirem peixes-voadores, voar faz parte da natureza dos peixes.”
(John Gray, Straw Dogs: Thoughts on Humans and Other Animals)

Tradução de Miguel Serras Pereira