segunda-feira, 30 de julho de 2012

Vasa, o navio resgatado do fundo das águas

“O Vasa é o único navio de guerra do século XVII existente no mundo. Com 95% do casco original do barco preservado e ornamentado com centenas de esculturas talhadas, o Vasa é um tesouro artístico único e uma das maiores atrações turísticas do mundo.
O navio encontra-se exposto num museu especialmente edificado para o albergar, situado em Estocolmo. No interior desse museu, são apresentadas nove exposições relacionadas com o navio, há uma loja com ampla gama de artigos e um restaurante de luxo. O filme sobre o Vasa é apresentado em dezesseis línguas. O Museu Vasa atrai mais visitantes do que qualquer outro museu da Escandinávia. Por si só, é já um motivo mais do que suficiente para visitar Estocolmo.
O naufrágio do Vasa
A 10 de Agosto de 1628, um potente navio de guerra deixava o porto de Estocolmo. Era o recém-construído Vasa, cujo nome se deve à dinastia Vasa reinante. Para assinalar essa data solene, foi disparada uma salva dos canhões, projetada através das canhoneiras que bordavam ambos os flancos do navio.
À medida que o imponente navio se deslocava lentamente na direção da entrada do porto, levantou-se uma rajada de vento. O Vasa inclinou-se, mas voltou a endireitar-se. Uma segunda rajada de vento fez com que o barco se inclinasse completamente para um dos lados. A água infiltrou-se através das canhoneiras abertas e o Vasa afundou-se, levando com ele para as profundezas do mar, pelo menos, 30 ou mesmo 50 dos 150 tripulantes. Só passados 333 anos é que o Vasa voltou a ver a luz do dia.
O autor do achado
Anders Franzén, um investigador independente, iniciou as buscas do Vasa no início dos anos cinqüenta. Desde a sua infância que sentia um enorme fascínio pelos destroços dos navios naufragados nas proximidades da casa dos seus pais, no arquipélago de Estocolmo. O verme xilófago Teredo navalis, devorador de cascos de madeira em águas salgadas, não tem grandes hipóteses de sobrevivência nas águas salobras do Báltico. Anders Franzén apercebeu-se da importância desse fato para os navios afundados no Báltico e, em 1956, redescobriu o Vasa.
Enorme para o seu tempo
O Vasa foi construído em Estocolmo, sob a supervisão do armador holandês Henrik Hybertsson, que contou com a ajuda de carpinteiros, marceneiros, escultores, pintores, vidraceiros, veleiros, ferreiros e muitos outros artesãos. Ao todo, trabalharam no Vasa quatrocentas pessoas.
O navio foi mandado construir por Gustavo Adolfo II, rei da Suécia, e demorou dois anos a ser terminado. Possuía três mastros e podia suportar dez velas, media 52 metros da cabeça do mastro à quilha e 69 metros da proa à popa e pesava 1.200 toneladas. Depois de terminado, tornou-se num dos barcos mais poderosos jamais construído.
O que ocorreu mal?
Hoje em dia, é possível calcular com precisão a forma como um navio deve ser projetado de forma a navegar de forma eficaz. No século XVII, utilizavam tabelas de dimensões consideradas eficazes no passado. Com base em documentos contemporâneos, sabemos agora que os projetos de construção do Vasa foram alterados depois de começarem as obras.
O rei pretendia que a bordo fosse instalado um número de canhões superior ao normal, o que significa que as dimensões inicialmente escolhidas para o navio deixaram de ser apropriadas e os construtores viram a sua situação complicar-se. O navio foi construído com uma superestrutura superior, com dois conveses fechados para canhões. No fundo do navio foram colocadas inúmeras pedras enormes que serviam como lastro para o manter estável na água. Mas o Vasa estava demasiado desequilibrado e as 120 toneladas de lastro não foram suficientes.
O que levou à construção do Vasa?
O Vasa era suposto ser um dos maiores navios da Marinha sueca. Possuía 64 canhões, a maioria de 24 libras (disparavam balas que pesavam 24 libras ou mais de 11 kg). A Suécia possuía cerca de vinte navios de guerra, mas nenhum deles transportava tantos canhões e tão pesados como os do Vasa.
O Vasa teria provavelmente navegado para a Polônia, que durante anos foi o inimigo número um da Suécia. Na Polônia reinava o Rei Sigismund, primo do rei sueco (o avô paterno era o mesmo). Sigismund tinha sido, em tempos, regente da Suécia, mas foi deposto por praticar a fé católica.
Após a recuperação do Vasa
Após vários anos de preparação, o Vasa voltou novamente à superfície em 24 de Abril de 1961. Era agora necessário preservá-lo. Destroços naufragados durante tanto tempo tinham de ser submetidos a um tratamento especial, caso contrário, existia o risco de a madeira fender e desfazer-se em pedaços com o passar do tempo.
Inicialmente, o Vasa foi salpicado com água, enquanto os peritos tentavam descobrir um método de conservação apropriado. O conservante escolhido foi o polietileno glicol (PEG), um produto maleável solúvel na água que penetra lentamente na madeira, substituindo a água. A vaporização com PEG continuou durante vários anos.
As esculturas
Juntamente com o Vasa, foram recuperados mais de 14.000 objetos de madeira soltos, incluindo 700 esculturas. Estas foram preservadas individualmente e recolocadas nos lugares de origem, no navio. Esta tarefa revelou ser um autêntico quebra-cabeças.
Os navios de guerra do século dezessete não eram simples engenhos de guerra, eram autênticos palácios flutuantes. As esculturas recuperadas possuíam vestígios de ornamentos dourados e de pintura. As análises atuais mostram que tinham sido pintadas com cores garridas sobre um fundo vermelho. As esculturas representavam leões, heróis bíblicos, imperadores romanos, criaturas marinhas, divindades gregas, entre outros, e tinham por objetivo enaltecer a monarquia sueca e exprimir o seu poder, a sua cultura e as suas ambições políticas.
Qual o estado atual do Vasa?
A conservação e manutenção do Vasa constituem uma tarefa ininterrupta. A sua conservação depende essencialmente de um clima estável. Enquanto os destroços estiveram submersos, as cavilhas de ferro desfizeram-se com a ferrugem, escurecendo as tábuas de carvalho. No final, apenas estava preso por cavilhas de madeira. Os poluentes existentes na água formaram grandes quantidades de enxofre, que foi penetrando na madeira. Atualmente, o enxofre reage com o oxigênio transformando-se em ácido sulfúrico, que é nocivo para a madeira, mas inofensivo para os visitantes do museu. As investigações para a conservação a longo prazo do Vasa continuam.
Vasa, a máquina do tempo
Quando o Vasa se afundou, o tempo parece ter parado. O que foi recuperado em 1961 foi uma peça em bom estado de conservação do século XVII. Cada um dos inúmeros objetos recuperados tem uma história para contar. Entre eles, encontram-se esqueletos dos membros da tripulação, bem como os seus pertences e o equipamento do navio.
No meio da lama e do lodo, no fundo do Vasa, os autores do achado encontraram as seis velas que não tinham sido desfraldadas quando o navio naufragou. São as velas mais antigas do mundo a terem sido recuperadas e, antes do trabalho de conservação, encontravam-se num estado de fragilidade extrema. As investigações sobre os achados continuam ainda. No museu, encontram-se em exposição vários objetos exclusivos, dando a conhecer vivências de outras eras e dos respectivos povos.”

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