terça-feira, 8 de maio de 2012

Uma cronologia da controvérsia ariana

256 - Líbia - Nascimento de Ário.
311 - Egito - Ário é ordenado presbítero pelo bispo Aquiles de Alexandria, sucessor de Pedro, martirizado em 311.
311 - Palestina - Eusébio é sagrado bispo de Cesaréia em algum momento entre 311 e 318.
312 - Egito - Alexandre é sagrado bispo de Alexandria.
317 - Ásia Menor - Eusébio, um seguidor de Luciano de Antioquia, torna-se bispo de Nicomédia.
318 ou 319 - Egito - Em uma discussão informal sobre a Trindade entre o bispo Alexandre e seus presbíteros, Ário acusa Alexandre de sabelianismo. Ele continua dando forma a sua visão adocionista seguindo a teologia de Luciano de Antioquia. Mais tarde, Alexandre de Alexandria convoca um concílio que condena e exila Ário. Este então escreve sua Carta a Eusébio de Nicomédia na qual se queixa de ter sido injustamente perseguido. A carta menciona que Eusébio de Cesaréia e muitos outros bispos orientais também foram condenados. Ário então viaja a Nicomédia a convite de Eusébio, após o que Eusébio começa uma campanha, mediante cartas aos bispos da Ásia Menor, apoiando Ário. Por esse fervoroso respaldo a Ário, Eusébio “transforma o que poderia ter sido uma disputa egípcia numa controvérsia ecumênica” (Quasten III, 91).
Em algum momento do mesmo ano, Alexandre escreve sua Epístola Católica na qual informa a seus companheiros bispos que Eusébio de Nicomédia está também propagando a heresia ariana. Ele adverte seus colegas que não sigam Eusébio, porque do contrário eles também cairão na apostasia.
320 - Ásia Menor - Enquanto se encontra em Nicomédia, Ário escreve sua Carta a Alexandre de Alexandria, na qual apresenta outro resumo de suas opiniões. Aproximadamente no mesmo momento, Ário escreve O Banquete (ou a Thalia), talvez numa tentativa de popularizar sua doutrina. Só sobrevivem fragmentos desse trabalho, a maioria na forma de citações nos escritos de Atanásio.
324 - Egito - Alexandre escreve uma Carta a Alexandre de Constantinopla que é também enviada aos bispos fora do Egito. Nessa carta, Alexandre adverte seus companheiros bispos do perigo que contém a ameaça ariana. Ele também menciona Luciano de Antioquia e Paulo de Samósata como os verdadeiros iniciadores dessa heresia.
325 - Palestina - Nos primeiros meses do ano, Ósio, um representante do imperador Constantino, preside um concílio antiariano em Antioquia. Esse concílio condena Eusébio de Cesaréia por ser um seguidor ariano e formula um credo doutrinal a favor da teologia de Alexandre.
325 - Ásia Menor - Constantino convoca o Concílio de Nicéia para desenvolver uma fórmula de fé que possa unificar a Igreja. Redige-se o Credo Niceno, declarando que o Pai e o Filho são da mesma substância (homoousios), tomando uma posição claramente antiariana. Ário é exilado na Ilíria.
327 - Ário e Euzônio escrevem uma Carta ao Imperador Constantino. Essa carta inclui um credo que tenta mostrar a ortodoxia da posição ariana e uma petição para serem restituídos à Igreja.
328 - Constantino ordena que Ário retorne do exílio na Ilíria.
328 - Egito - Alexandre de Alexandria morre a 17 de abril. Atanásio é sagrado bispo de Alexandria a 18 de junho.
335 - Palestina - Um Pronunciamento do Sínodo de Tiro e Jerusalém restitui a Ário e seus amigos a comunhão com a Igreja. Tanto Eusébio de Cesaréia como Eusébio de Nicomédia têm papéis importantes nesse sínodo. Atanásio é deposto e vai queixar-se ao imperador Constantino, com quem se encontra na metade do caminho. Diante da persistência de Atanásio em demandar uma audiência, Constantino aceita escutar seu protesto. O imperador então escreve sua Carta aos Bispos Reunidos em Tiro pedindo que se encontrem em sua presença para discutir o tema. Alguns dos bispos começam a voltar a suas casas, mas Eusébio de Nicomédia vai-se encontrar com Constantino e sua consorte.
336 - O imperador concorda com o que foi decidido no concílio a respeito de Atanásio e exila-o em Trieste.
336 - Marcelo, bispo de Ancira, é deposto em um concílio em Constantinopla. Ele havia escrito um tratado em 335 defendendo a teologia nicena, mas foi considerado um sabeliano por seus oponentes.
336 - Grécia - Ário morre repentinamente em Constantinopla na tarde anterior à cerimônia formal na qual iria reaver seu estado presbiterial.
337 - Ásia Menor - Eusébio de Nicomédia batiza Constantino, que morre a 22 de maio em Nicomédia. Sua apologia é pronunciada por Eusébio de Cesaréia. O império se divide entre seus três filhos: Constâncio no Oriente, Constantino II toma a Bretanha e as Gálias e Constante, a Itália e a Ilíria. Em 17 de junho Constâncio ordena o retorno de Atanásio a Alexandria.
338 - Grécia - Eusébio de Nicomédia é designado bispo de Constantinopla.
338 - Palestina - Um concílio em Antioquia depõe Atanásio e ordena um segundo exílio.
339 - Egito - Atanásio se apressa a voltar a Alexandria antecipando-se à expulsão. Gregório, um homem da Capadócia (não é Gregório de Nazianzo ou Gregório de Nissa) toma posse da sede do bispo Atanásio.
339 - Eusébio de Cesaréia morre no fim de 339 ou no início de 340.
340 - Depois da morte de Constantino II, Constante passa a ser o único governante do Ocidente. Ele apóia os nicenos e Atanásio, enquanto seu irmão no Oriente, Constâncio, como sabemos, se opõe à teologia nicena. Também Júlio I, bispo de Roma, recebe Marcelo e Atanásio em comunhão com a Igreja de Roma.
341 - Palestina - Realizam-se dois concílios arianos em Antioquia durante esse ano, o primeiro por ocasião da dedicação de uma igreja que fora começada sob a direção do imperador Constantino. Dos 97 bispos presentes, nenhum é do ocidente e muitos são hostis a Atanásio. Durante esse concílio, são escritas a Primeira e a Segunda Confissão Ariana, iniciando, desse modo, uma tentativa de produzir uma doutrina formal de fé oposta ao Credo Niceno (a Segunda Confissão Ariana é também conhecida como o Credo da Dedicação). A Quarta Confissão Ariana é escrita no segundo concílio do ano. Os bispos orientais negam ser arianos, elaborando a seguinte declaração: “Como, sendo bispos, deveríamos seguir um sacerdote?” (O sacerdote a que se referem é obviamente Ário).
341 - Eusébio de Nicomédia morre no inverno de 341-342.
342 ou 343 – Constante convoca um concílio na Sárdica numa tentativa de restaurar a unidade da Igreja. O concílio é um fiasco. Os bispos orientais e ocidentais se separam e denunciam-se uns aos outros. Os ocidentais publicam uma declaração que é considerada um ataque ao arianismo e os orientais retiram-se para Filipópolis, onde elaboram uma declaração fechada em Sárdica que justifica a deposição de Atanásio e Marcelo e condena Júlio I e outros. A isso se junta o 4º credo de Antioquia com anátemas adicionais dirigidos a Marcelo.
344 - Realiza-se outro concílio ariano em Antioquia. Aqui, o concílio redige a Quinta Confissão Ariana (ou Macrostich), a qual é bem mais longa que as confissões escritas em Antioquia em 341. O Macrostich é o credo oriental da Sárdica mais oito parágrafos dirigidos aos bispos ocidentais.
345 - Itália - Realiza-se um concílio em Milão. Os bispos ocidentais lêem o Macrostich.
345 - Egito - Gregório, bispo de Alexandria, morre em junho.
346 - Egito - Atanásio é restituído à sede alexandrina.
347 - Itália - Realiza-se um segundo concílio em Milão.
350 - O rebelde Magnésio assassina Constante.
351 - Um segundo concílio é convocado em Sirmium sob a supervisão de Basílio de Ancira. É escrita a Sexta Confissão Ariana (ou Primeira de Sirmium), que parece ser uma revisão aumentada da Quarta Confissão Ariana escrita em 341.
353 - Um concílio dirigido contra Atanásio é realizado em Arles no outono.
353 - Constâncio derrota Magnésio e se torna o único governante do império; ao desaparecer Constante, que apoiava os nicenos, ele trabalha para eliminar a teologia nicena.
355 - Itália - Realiza-se um concílio em Milão. Atanásio é condenado novamente.
356 - Egito - Atanásio é deposto a 8 de fevereiro, começando o terceiro exílio.
356 - George é nomeado bispo de Alexandria. Aécio, que afirma que o Filho é distinto (anomoios, daí o título de anomoeanismo) e não pode ser da mesma essência ou similar ao Pai, exerce influência sobre George.
357 - Palestina - Eudóxio, outro teólogo influenciado por Aécio, torna-se bispo de Antioquia.
357 - O terceiro concílio de Sirmium se realiza durante o inverno. Redige-se a Sétima Confissão Ariana (ou Segunda de Sirmium), também chamada “A Blasfêmia”. Os bispos ocidentais se esforçam o mais que podem para alcançar um acordo com os arianos. Tanto homoousios (de uma essência) como homoiousios (de distinta essência) são evitados por serem antibíblicos, e chega-se a um acordo de que o Pai é maior que seu Filho subordinado.
358 - Um concílio realizado em Ancira sob a liderança de seu bispo, Basílio, dá a conhecer uma declaração usando o termo homoiousios. Os bispos participantes são considerados “semi-arianos”.
359 - Realiza-se o quarto concílio de Sirmium a 22 de maio. Redige-se a Quarta Confissão de Sirmium (ou o Credo Fechado). Propõe-se uma fórmula de compromisso, que não é técnica, mas feita para agradar a todos (embora seja demasiado diluída para fazer algum bem).
359 - Constâncio convoca dois concílios para finalizar o que Nicéia havia começado, ou seja, para desenvolver um credo que unificará a Cristandade. O Sínodo de Ariminum (Rimini) é realizado no Ocidente durante o mês de maio e participam mais de 400 bispos. O Sínodo de Selêucia acontece em outubro ou dezembro e dele participam cerca de 160 bispos. Aqui se escreve a Nona Confissão Ariana, que afirma que Cristo é “como o Pai”, enquanto anatematiza os anomoeanos. Finalmente, ambos os concílios se põem de acordo com essa fórmula de fé, semi-ariana, embora não se especifique como o Filho é igual ao Pai. De qualquer modo, esse acordo parece ter sido forçado em Ariminum, o qual teria terminado, se não fosse assim, a favor de Nicéia.
360 - Grécia - Realiza-se um concílio em janeiro para revisar as conclusões de Ariminum e Selêucia do ano anterior. Redige-se a Décima Confissão Ariana. Jerônimo escreve em relação a esse concílio, vinte anos mais tarde, que “o mundo despertou um dia e gemeu ao ver-se ariano”.
360 - As tropas de Constâncio enfrentam dificuldades e estão sendo derrotadas. As forças gálicas declaram Juliano - primo de Constâncio - imperador, ao invés de dar seu apoio ao decadente Constâncio.
361 - Constâncio morre a 3 de novembro, depois de nomear Juliano imperador.
361 - Palestina - Realiza-se um concílio em Antioquia enquanto se instala Euzônio como bispo de Antioquia (Euzônio havia sido excomungado com Ário em 318 e 325 e readmitido com ele em 335). Durante esse concílio, escreve-se a Décima-Primeira Confissão Ariana. Esse credo é fortemente anomoeano, o que leva Atanásio a observar que os arianos tinham retornado às primeiras doutrinas forjadas por Ário.
373 - Atanásio morre a 3 de maio.
373 - Grécia - O Primeiro Concílio (segundo ecumênico) de Constantinopla se realiza para rever a controvérsia desde Nicéia. Sob a direção de Gregório de Nazianzo, reavalia-se o Credo Niceno, que é aceito com a junção das cláusulas sobre o Espírito Santo e outros temas.
383 - Revisam-se as decisões do Primeiro Concílio de Constantinopla. 383 pode ser identificado como o ano em que terminou a controvérsia ariana, ou seja, a Igreja finalmente aceitou uma fórmula de fé não-ariana que não foi mais questionada por outras confissões arianas. Embora os arianos continuem existindo durante muito tempo ainda, a agenda teológica da Igreja se desvia da Trindade e se precipita em outra controvérsia, a cristológica do século V.”
(Anthony Beavers e Robert Rivers, A Chronology of the Arian Controversy)