segunda-feira, 14 de maio de 2012

Sobre o defeito de confirmação por parte dos papas conciliares

“O exercício liberal da autoridade surpreende o leigo porque mostra ao mesmo tempo, em aparente incoerência, aspectos de extrema fraqueza e de extremo despotismo; mas isso não provém de defeitos de temperamento, e sim dos princípios mesmos do liberalismo. A autoridade liberal torna-se fraca diante das vozes que encarnam a “opinião pública”: o jornalismo na ordem política e os neoteólogos no religioso; mas, uma vez justificada pelo infalível “sentir comum”, transforma-se no mais absoluto dos poderes. Paulo VI cedeu gemendo a alguns poucos peritos conciliares, mas tratou como a crianças a multidão de bispos do Coetus Internationalis Patrum; foi cem vezes vencido pelos especialistas do Consilium para a reforma da liturgia, mas impôs seu missal passando por cima das resistências mais legítimas de bispos, sacerdotes e fiéis do mundo inteiro. Por isso não se pode dizer que o Concílio se tenha desviado contra a vontade dos Papas conciliares, senão que, muito pelo contrário, o pôde fazer graças ao despótico apoio deles.
No entanto, é preciso afirmar que faltou completamente uma verdadeira “confirmação” por parte do Romano Pontífice aos atos e decretos do Concílio. Como resulta do que expusemos – e do que exporemos nos próximos artigos –, para a mentalidade liberal o termo “confirmar” significa algo não só diferente do mas oposto ao que significava para o pensamento tradicional. Um Papa católico “confirma” as declarações de todo um Concílio fundado na própria autoridade que tem de Cristo, julgando tudo como supremo mestre, de tal maneira que, se lhe parecem corretas, as aprova firmando-as como doutrina; se não lhe parecem corretas, reprova-as, e de nada vale o dito aos olhos da Igreja. Um Papa liberal, em contrapartida, “confirma” os ensinamentos do Concílio considerando-se instrumento da comunidade eclesial para autenticar como supremo tabelião o que o Espírito Santo inspirou ao sensus fidelium, os neoteólogos expressaram em doutrinas e os bispos unificaram em poucas sentenças; de maneira tal que, pense o que pensar, é obrigado a assinar o que o Espírito ensina na Igreja. Pois bem, ainda que o Espírito Santo não deixe de inspirar a menor das almas, não garante de modo algum as manifestações exteriores do comum dos fiéis, cada vez mais manipuladas pelos donos da publicidade. Portanto, a “confirmação” liberal não vale nada e deixa as declarações conciliares não só sem a nota de infalibilidade, mas também – como depois diremos – sem nenhuma autoridade doutrinal. Os Papas conciliares aprovaram e impuseram a doutrina do Concílio, e da maneira mais tirânica, mas não como mestres vicários de Cristo, única modalidade assistida pela infalibilidade.”
(Pe. Álvaro Calderón, La Lámpada bajo el Celemín)

Tradução de Carlos Nougué