domingo, 26 de setembro de 2010

As razões formais da filosofia natural, pelo modo de ser da proporção, anunciam o Verbo de Deus


“As razões intelectuais e abstratas são como que intermediárias entre as razões seminais e as ideais. As razões seminais não podem encontrar-se na matéria sem que nela se dêem a produção e a geração da forma; do mesmo modo as razões intelectuais, sem que se gere a palavra na mente; logo, nem as razões ideais podem estar em Deus sem haver a produção do Verbo pelo Pai segundo uma reta proporção. Isto é, de fato, uma dignidade, e se convém à criatura com muito mais razão deve convir ao Criador. Por isso disse Agostinho que o Filho de Deus é “a arte do Pai”. Além disto, o apetite que existe na matéria está ordenado para as razões intelectuais, de forma que a geração nunca seria perfeita se a alma racional se não unisse à matéria corpórea. Ora, pelo mesmo motivo se pode arguir que não poderia dar-se a mais alta e a mais nobre perfeição no Universo se a natureza na qual existem as razões seminais, e a natureza na qual existem as razões intelectuais, e a natureza na qual existem as razões ideais, não concorressem conjuntamente na unidade de pessoa, o que se verificou na incarnação do Filho de Deus. Toda a filosofia natural anuncia, pois, pelo modo de ser da proporção, o Verbo de Deus nascido e incarnado, como “alpha e omega”, ou seja, nascido no princípio e antes dos tempos, mas incarnado no fim dos séculos.”
(São Boaventura, De Reductione Artium ad Theologiam)

Tradução de Mário Santiago de Carvalho

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