“A Revolução Francesa agiu em relação a este mundo exatamente como as revoluções religiosas operam em relação ao outro. Tem considerado o cidadão de uma maneira abstrata, fora de qualquer sociedade particular, da mesma maneira como as religiões consideram o homem em geral, independentemente do país e da época. Não pesquisou tão-somente qual era o direito particular do cidadão francês mas também quais os deveres e direitos gerais dos homens em matéria política.
Foi remontando sempre dessa maneira ao que havia de menos particular e por assim dizer de mais
natural em matéria de estado social e governo que a Revolução Francesa conseguiu tornar-se compreensível a todos e copiável em cem lugares ao mesmo tempo.
Como parecia aspirar mais ainda à regeneração do gênero humano que à reforma da França, acendeu uma paixão que as revoluções políticas as mais violentas jamais conseguiram produzir até então. Inspirou o proselitismo e gerou a propaganda. Foi assim que pegou este ar de revolução religiosa que tanto apavorou os contemporâneos, ou melhor, tornou-se ela própria uma espécie de nova religião, uma religião imperfeita, é verdade, sem Deus, sem culto, sem Além, mas que, todavia, como o islamismo, inundou toda a terra com seus soldados, apóstolos e mártires.
Não se deve pensar, entretanto, que seus procedimentos não tivessem precedente algum e que todas as idéias que difundiu fossem inteiramente novas. Houve em todos os séculos e até em plena Idade Média agitadores que, para mudar os costumes, invocaram as leis gerais das sociedades humanas e que empreenderam opor à constituição de seu país os direitos naturais da humanidade. Mas todas essas tentativas falharam: a mesma tocha que tocou fogo na Europa no século dezoito foi apagada com facilidade no século quinze. Para que argumentos dessa espécie produzam revoluções é preciso que algumas mudanças nas condições, costumes e usos já tenham ocorrido e preparado o espírito humano a se deixar penetrar por eles.”
(Alexis de Tocqueville,
L’Ancien Régime et La Révolution)
Tradução de Yvonne Jean
Prezado Theophilus, Laudetur Dominus!
ResponderExcluirMuito interessante esta última frase, principalmente levando em conta que foi escrita em 1856, por que descreve exatamente o que está em curso nos nossos dias: a corrupção dos usos e costumes como prática revolucionária generalizada e sendo até mesmo tratada como um meio legítimo de conseguir apoio por pretensos "cientistas".
É interessante notar o caráter "quase religioso" da Revolução Francesa, principalmente se levarmos em consideração que a maçonaria teve grande influência nos movimentos que a promoveram. É curioso também notar que o resultado de constantes revoluções através da hitória têm cada vez mais empurrado o homem em direção a uma "religião laica", tendo o Estado como "deus", que decide quem vive ou morre e se intromete até em questões de âmbito mais privado, como a educação dos filhos ou a linguagem usada nas conversas.
Pax et Salutis
“De um lado o espírito da sociedade política, do outro o culto das forças materiais do cosmos. A aliança de religião estatal e religião do cosmos opõe-se à aliança de Deus com o homem.” Olavo de Carvalho.
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