domingo, 29 de maio de 2016

Michelangelo Buonarroti: Soneto LXVI


Forçoso é que a piedade enfim me venha,
pra que d’alheias culpas mais não ria,
seguro em meu valor, sem outro guia,
alma perdida que de si desdenha.

Nem sei que outra bandeira me mantenha
não vencedor, mas salvo da porfia
com que o tumulto adverso me seguia,
se não é Teu poder que me sustenha.

Ó carne, ó sangue, ó lenho, ó dor extrema!
Justo por vós se tome o meu pecado,
do qual nasci e os pais que foram meus.

Só Tu és bom: socorra tão suprema
piedade o meu predito iníquo estado:
tão perto a morte, e ainda tão longe Deus.


Tradução de Jorge de Sena