segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A história de Teófilo


“É célebre a história de Teófilo, escrita pelo clérigo Eutiquiano de Constantinopla, como testemunha ocular que foi do fato que passo a relatar. Segundo o padre Crasset, confirmam-no S. Pedro Damião, S. Bernardo, S. Boaventura, S. Antonino e outros.
Era Teófilo arcediago da igreja de Adanas, na Cilícia. Tanto o estimava o povo que o quis para bispo, dignidade que ele por humildade recusou. Caluniado, porém, por alguns malvados, e por isso destituído de seu cargo, ficou de tal maneira desgostoso, que, fora de si pela paixão, se foi valer do auxílio de um mágico judeu. Pô-lo este em comunicação com o demônio, o qual prometeu a Teófilo auxiliá-lo, mas sob a condição de assinar ele, de próprio punho, um papel pelo qual renunciava a Jesus e Maria, sua Mãe. Acedeu Teófilo e assinou a execranda renúncia. No dia seguinte o bispo reconheceu a falsidade das acusações contra Teófilo e pediu-lhe perdão, restituindo-lhe o cargo que ocupara. Mas o infeliz chorava sem cessar, tendo a consciência dilacerada de remorso pelo enorme pecado que havia feito. Finalmente, vai à igreja, ajoelha-se diante da imagem de Maria e lhe diz: Ó Mãe de Deus, não quero desesperar; ainda vós me restais, vós que sois tão compassiva e poderosa para me ajudar. Durante quarenta dias viveu chorando e invocando a Santíssima Virgem. Uma noite apareceu-lhe a Mãe de misericórdia e disse-lhe: Que fizeste, Teófilo? Renunciaste à minha amizade e à de meu Filho e te entregaste àquele que é teu e meu inimigo! Senhora, respondeu Teófilo, haveis de me perdoar e de me obter o perdão de vosso Filho.
Vendo Maria tão grande confiança, acrescentou: Consola-te, que vou rogar a Deus por ti. Reanimado, redobrou Teófilo as lágrimas, as preces e as penitências, conservando-se sempre aos pés da imagem de Maria. Reapareceu-lhe a Mãe de Deus e amavelmente lhe diz: Teófilo, enche-te de consolação. Apresentei a Deus tuas lágrimas e orações; de hoje em diante guarda-lhe gratidão e fidelidade. Senhora minha, replicou o infeliz, ainda não estou plenamente consolado; ainda conserva o demônio o ímpio documento em que renunciei a vós e a vosso Filho; podeis fazer que mo restitua. E eis que três dias depois, acordando Teófilo à noite, achou sobre o peito o referido documento. No dia seguinte foi à igreja e ajoelhando-se aos pés do bispo que justamente oficiava, contou-lhe por entre soluços tudo quanto havia acontecido. Entregou-lhe o ímpio documento, que o bispo fez queimar imediatamente diante dos fiéis presentes, enquanto choravam todos de alegria, exaltando a bondade de Deus e a misericórdia de Maria para com aquele pobre pecador. Teófilo, entretanto, voltou à igreja de Nossa Senhora, onde no fim de três dias morreu contente e cheio de gratidão para com Jesus e sua Mãe Santíssima.”
(Santo Afonso de Ligório, Le Glorie di Maria)

Tradução do Pe. Geraldo Pires de Sousa

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